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Para analistas, medida visa restringir alta dos preços
Decisão deve atrair investidores que buscam ganhar com juros altos
Apesar da aparente moderação do crescimento da economia global, risco ainda é de alta do dólar
A retirada do imposto sobre empréstimos no exterior de curto prazo deve incentivar empresas e bancos a buscar recursos no exterior e atrair investidores externos, o que pode frear a recente alta do dólar e ajudar no controle da inflação.
Essa é a aposta de operadores e economistas depois do anúncio feito pelo governo nesta quarta-feira (4) de zerar o IOF sobre empréstimos no exterior com prazo a partir de seis meses.
Até então, a isenção valia apenas para captações a partir de um ano.
A taxa de juros brasileira, mais elevada do que na maioria dos países (11% ao ano), incentiva a busca de grandes empresas por empréstimos no exterior, afirma Daniela Prates, professora de economia da Unicamp.
A taxa também atrai investidores que captam recursos (mais baratos) no exterior e vendem (mais caro) no Brasil, em operações chamadas de "carry trade".
Sem o imposto para empréstimos a partir de seis meses, afirma ela, essas operações ficam mais atrativas.
"O governo está abrindo as portas para o que chama, pejorativamente, de capital especulativo", afirma Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências.
Segundo ele, o objetivo parece ser aumentar o fluxo de dólares para o Brasil, que ficou negativo em maio (ver texto ao lado). Essa afluência de recursos tenderia a baixar o valor do dólar e ajudar o BC no combate à alta de preços.
"A política monetária tem se mostrado insuficiente para manter a inflação sob controle", disse. "O câmbio age sobre os preços no curto prazo."
Blanche ressalta que cerca de 80% do que o país importa são insumos para a produção de outros bens, o que significa que altas na cotação do dólar provocaram reajustes em diferentes cadeias produtivas. Quedas, portanto, sugerem acomodação dos preços.
Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, a preocupação com a inflação é ainda mais relevante neste momento, em que a alta de preços (6,28% em 12 meses, até abril) está perto do limite estipulado pelo próprio governo (6,5%).
Apesar da aparente moderação da economia global, o risco ainda é de alta do dólar no Brasil, argumenta ela.
Diante do risco de deflação na zona do euro, o BCE (banco central europeu) pode acionar mais estímulos nesta quinta-feira (5).
"Mais do que a Europa, são os EUA que estão ditando o cenário global. E o sinal da economia dos EUA é, sem dúvida, para cima", diz Latif.
Daniela Prates observa ainda que, caso se confirme a deflação na Europa, o resultado pode ser mais nervosismo global, o também impulsionaria o dólar no Brasil.
Um sinal da volatilidade dos mercados é a taxa de juros norte-americana de longo prazo (dez anos). Em uma semana, ela subiu de 2,4% para 2,6% ao ano.