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Análise

Custo social é ponto crítico da política para controlar inflação

NILSON TEIXEIRA ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma parte substancial da sociedade não espera recuo relevante da inflação nos próximos anos. Ao contrário, a inflação ao consumidor superará 6,5% em breve, permanecendo acima desse patamar por vários meses.

É possível, inclusive, que continue acima desse valor por um período prolongado.

Uma das razões para isso é que, quanto mais altos os aumentos de preços e mais descoladas as expectativas de inflação futura estiverem de sua meta, mais lenta tende a ser a reversão da inflação.

Essa elevada persistência inflacionária é uma das causas de o menor crescimento e os menores reajustes do salário mínimo nos últimos anos não terem contribuído para reduzir a inflação de serviços. Outra razão está associada à necessidade de ajuste dos preços monitorados que não acompanharam a alta dos seus custos ou dos preços de importação de seus similares nos últimos anos.

Um eventual reajuste desses preços elevaria ainda mais a inflação em 2015, contribuindo para que as expectativas fiquem bem acima do centro da meta de 4,5%.

A inflação ao consumidor aumentaria em um ponto percentual no primeiro semestre de 2015, caso houvesse recomposição integral e imediata dos seguintes preços monitorados: preços domésticos dos combustíveis, convergindo para seus preços internacionais; preços da energia elétrica, refletindo a recente alta nos seus custos de produção, e tarifas de ônibus urbano e intermunicipal, por não terem sido elevadas por ocasião das eleições municipais em 2012, das manifestações populares em 2013 e das eleições gerais de 2014.

Em termos práticos, o governo eleito terá duas possíveis políticas para os preços a partir do início de 2015. No caso de uma recomposição integral e imediata dos preços administrados, o aumento da inflação seria maior em um primeiro momento, alcançando 7,5% no primeiro semestre de 2015.

Isso elevaria o risco de contaminação das expectativas para prazos mais longos e exigiria políticas monetária e fiscal ainda mais contracionistas. Consequentemente, aumentaria a probabilidade de recessão em 2015.

Ainda assim, a adoção de políticas austeras poderia contribuir para reverter o declínio da confiança e elevar a atratividade dos investimentos no Brasil, tanto em renda fixa como em renda variável.

Essa maior entrada líquida de divisas no país conduziria, provavelmente, à apreciação cambial ou, ao menos, à relativa estabilidade do real, atenuando o aumento da inflação no início do próximo ano e, portanto, impedindo uma elevação expressiva das expectativas de inflação.

Assumindo estabilidade da taxa de câmbio em R$2,25/US$, seriam necessários um superavit primário de 3,2% do PIB nos próximos anos e uma alta de juros para 14% em 2015 para reduzir a inflação IPCA dos atuais 6,4% para o centro da meta em 2016.

É provável que a adoção de um conjunto amplo de medidas promova o recuo das expectativas de inflação para períodos mais distantes, contribuindo para atenuar a alta da inflação corrente e, consequentemente, o rigor do aperto monetário inicial. Em um ambiente assim, não seria improvável a retomada sustentada do crescimento em um período subsequente, acompanhada de redução de juros.

Outra estratégia possível seria a de recompor os preços monitorados gradualmente. Apesar de parecer mais plausível em função de seu menor custo político, já que a inflação aumentaria menos em um primeiro momento, haveria consequências mais desfavoráveis no médio prazo.

Dadas as incertezas sobre o cronograma de elevação de preços, as expectativas para os anos seguintes continuariam altas, o que dificultaria, ainda mais, a convergência da inflação para a sua meta.

Um ajuste gradual dos preços monitorados com adoção de apertos fiscal e monetário menos robustos tornaria ainda mais improvável um recuo importante dessas expectativas de inflação. Esse cenário seria associado a um menor risco de recessão e, portanto, com menores custos sociais em 2015. Essa estratégia também implicaria em menor crescimento econômico nos anos subsequentes e maior inflação no médio prazo.

Independentemente da forma escolhida para reajustar os preços administrados, não parece apropriado manter uma política de intervenção contínua na formação dos preços. Mesmo sob o risco de uma eventual recessão em 2015, será necessário normalizar o sistema de preços, com o amparo de políticas suficientemente austeras.

Quase tão importante quanto isso, é que esse realinhamento de preços seja transparente, elevando a previsibilidade e credibilidade das políticas públicas. Isso reduzirá os custos de curto prazo e ampliará os benefícios de médio prazo. As principais vantagens dessa estratégia seriam a elevação do crescimento econômico no médio prazo e a redução permanente da inflação.

Não se pode minimizar a dificuldade do governo em escolher uma estratégia. No curto prazo, a normalização rápida do sistema de preços terá custos sociais mais elevados do que os da opção de retardar ajustes necessários.

Um gradualismo crível e relativamente rápido pode parecer a solução ótima. Mas a experiência dos últimos anos mostra que, quase sempre, surgem justificativas razoáveis para postergar o ajuste. A estratégia supostamente ótima se transforma, então, em tenebroso gradualismo.

Mais cedo ou mais tarde, caberá ao governo tomar uma decisão com custo social não desprezível, que incluiria um aumento da taxa de desemprego, com o objetivo de garantir um maior crescimento no futuro, mesmo que de magnitude incerta. O desafio ao próximo governo será o de assumir o custo político de tomar decisões difíceis, com a maior brevidade possível.


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