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Piora risco para fazer negócios no Brasil
Consultoria mostra que desaceleração econômica global afeta negativamente 16 países, incluindo todos os Brics
Estudo avalia riscos legais e regulatórios, interferência política e vulnerabilidade bancária, entre outros
A desaceleração econômica global provocou queda na estabilidade política e jurídica e aumentou o risco na hora de fazer negócios em 16 países, entre eles todos os Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Os dados são de estudo que avalia a situação de 163 países e foi realizado pela consultoria Aon (líder na área de gestão de riscos) e pela Roubini Global Economics, do economista Nouriel Roubini.
O Brasil passou da categoria de médio-baixo risco para médio risco, assim como a Índia e a África do Sul. Já a China e a Rússia, de médio risco para médio-alto.
Feito desde 1998, o levantamento classifica os países anualmente em um ranking de seis níveis (veja mapa) com base em risco de interferência política (inclui greves, protestos, guerra civil), riscos legais e regulatórios, vulnerabilidade do setor bancário, probabilidade de dar calote em dívidas ou ter a cadeia de fornecimento afetada.
"A melhora do ambiente econômico nos países desenvolvidos, caso dos EUA, e a desaceleração no crescimento chinês contribuíram para a piora dos negócios nos Brics", diz Keith Martin, consultor de comércio e investimento internacional da Aon.
No caso do Brasil, a preocupação é com a capacidade de "fazer as reformas necessárias para voltar a ter um crescimento sustentável", diz Martin. "O mercado não vê sinais de que o país vai encarar de frente essas questões."
O professor da PUC-SP Antonio Corrêa Lacerda avalia que o Brasil perdeu uma posição no ranking dos países que mais atraem investimentos (passou de 4º para 5º em 2013). E que, apesar de ser a sétima maior economia do mundo, está em 21º no ranking de países exportadores, segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Apesar de todos os problemas, o investidor ainda olha para o Brasil mirando 2025, 2030 e vê grande potencial de consumo. O desafio imediato é vencer a estagnação. Mas o desafio no longo prazo é qualitativo, não quantitativo: gerar consumo interno de maior valor, exportação de qualidade", diz Lacerda.
Para este ano, a projeção é que o investimento produtivo destinado ao Brasil deva ficar entre US$ 50 bi e US$ 60 bi, menor patamar dos últimos quatro anos.
O professor Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais da UnB, diz que os Brics --e entre eles o Brasil-- podem recuperar o pico de crescimento que tiveram em 2010 e 2011, mas apenas no longo prazo.
"Já no caso da China, a realidade é outra. Apesar do crescimento em outro patamar (de 10% passa a 7,5% ao ano) e da mudança no padrão de crescimento, sustentada mais pelo consumo interno em vez de investimentos em infraestrutura, a China saiu da condição de emergente para outra escala: está, ao lado dos grandes, no centro da economia mundial", avalia.
De acordo com a Aon, seis países melhoraram a sua classificação de nível de risco neste ano. No ano passado, 13 melhoraram e 12 pioraram, e, em 2012, 3 melhoraram e 21 foram rebaixados.