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Cifras e Letras

Crítica jornalismo

Com irreverência, jornalista ataca corporações em livro

Repórter narra com agressividade sua busca por escândalos empresariais

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Irreverente, audacioso, independente, provocativo. Todos esses adjetivos cabem para qualificar o repórter investigativo Greg Palast. Sem travas, ele vai na jugular de corporações petrolíferas, de energia e do mercado financeiro em "Picnic de Abutres "" Em busca dos Porcos do Petróleo, Piratas da Energia e Carnívoros da Alta Finança".

O livro tem uma linguagem agressiva e contundente. Escritor e cineasta, o norte-americano Palast faz um diário de sua saga em busca de tramoias, crimes e engambelações das empresas. Nessa tarefa, com lances detetivescos, o autor é personagem central.

Nascido em Los Angeles em 1952, ele estudou nas melhores escolas da costa oeste e acabou sendo aluno do conservador Milton Friedman em Chicago. Alguns de seus colegas ganharam milhões ou até bilhões, conta.

"Para mim, trabalhar como um funcionário glorificado em algum banco apenas para comprar uma Ferrari parecia um assassinato do cérebro, um desperdício inglório dessa vida. Eu ficava enojado pensando que teria que aceitar um desses empregos que são um show de horrores, onde a vida espera por sextas casuais' e rapidinhas com estagiárias na copa."

Abandonando o roteiro de "Chicago boy", Palast foi trabalhar com sindicatos e desaguou no jornalismo. Grandes corporações passaram a ser o seu alvo. Atuando na BBC, ele diz que quando aparece na TV norte-americana presume que será chamado de "louco da conspiração". "Isso provoca uma risada--nos conspiradores", afirma.

"Não sou louco da conspiração, mas um especialista em conspiração", se autodefine. "Não guardo rancores. Guardo arquivos", declara.

Seus arquivos passam pelo megavazamento do Exxon Valdez, no Alasca, em 1989, pela destruição do Katrina, em Nova Orleans, em 2005, pela explosão da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, em 2010, por Fukushima, pelo Equador, pelo Azerbaijão, pelo Brasil.

ACUSAÇÕES

Palast afirma que o desastre pela morte das zonas úmidas no Delta do Mississippi (EUA) equivale ao de uma plataforma Deepwater Horizon por semana. "A costa do Delta está envenenada e morrendo e a culpa é da BP (British Petroleum)", acusa Palast.

Ele mostra como obras para beneficiar o tráfego de petroleiros favoreceram a ação de furacões. Alertas da comunidade científica foram sufocados. "A inundação em Nova Orleans não foi uma ação divina. Foi uma ação lobista. Uma ação de empreiteiros de engenharia. Uma ação da Chevron", afirma.

No caso do Exxon Valdez, o radar da embarcação estava desativado havia dois anos. A companhia empurrou a responsabilidade para o piloto embriagado, mas o repórter contesta: "Não foi um erro humano, foi uma miséria corporativa desumana, o corte de moedas visando o aumento de lucros e a fraude que o acoberta".

Do interior da Amazônia equatoriana, Palast revela um panorama de desastre ecológico e doenças em humanos no rastro da produção da Chevron. De uma liderança local ouviu: "Meu filho de três anos foi nadar e começou a vomitar sangue". A criança morreu rapidamente e um irmão morreu lentamente de câncer. Segundo epidemiologistas consultados pelo repórter, houve uma epidemia repentina de leucemia infantil na área petrolífera.

No Brasil, condena o governo FHC. "Privatizações em queima de estoque, cortes em aposentadorias, demissões em massa de funcionários públicos... Você já sente o cheiro da Grécia?"

O repórter fala da pressão internacional para a venda de bancos públicos (comete um erro ao falar do Banco do Brasil), citando documentos confidenciais. Na sua visão, Lula foi importante em "fechar as fronteiras contra os novos produtos financeiros" e impediu que o país mergulhasse na crise de 2008.

Numa narrativa um tanto caótica e cheia de palavrões, Palast faz um mosaico assustador das megacorporações. Fora do conforto de escritórios, ele mergulha na lama e não hesita em apontar culpados. Chuta o pau da barraca. Alguns podem achar o tom estridente demais. Pode ser. Mas sua reportagem é um raro alto-falante.


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