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Classe C já não é motor do gasto em supermercados

Inflação e endividamento pesam; classe AB agora responde por 61% do avanço

Inversão ocorre depois de cinco anos; para classe B, compras maiores substituem visitas a restaurantes

JOANA CUNHA DE SÃO PAULO

Antes ávidos por comprar produtos recém-lançados e ter acesso a marcas de qualidade superior, o consumidor da classe média já não é mais a locomotiva dos gastos nos supermercados brasileiros.

A classe C, que nos últimos cinco anos foi a impulsionadora dos gastos com comida, bebida e higiene, perdeu seu posto para a classe AB neste ano, segundo estudo antecipado para a Folha pelo instituto Nielsen.

Do crescimento de 7% registrado no gasto das famílias com abastecimento do lar neste ano até abril, a classe AB contribuiu com 61%, enquanto a C participou com só 34%. A queda é expressiva se comparada a 2013, quando a classe C teve participação de 49%, e a AB, de 35%.

O dado de 2014 indica uma tendência, afirma o Nielsen.

"Esse grupo não perdeu a relevância, continua sendo o mais importante em volume até por ser uma parcela maior da população, mas seu papel no crescimento mudou. O consumo subiu em todas as categorias de produtos, mas quem impulsionou dessa vez foi a classe AB", diz Olegário Araújo, diretor do Nielsen.

A troca pode ser explicada pelo endividamento da classe média e pela inflação, que a forçou a rever os gastos.

"Pode ter sido uma contenção para racionalizar e pagar o restante das contas. É um malabarismo necessário para segurar o gasto", diz.

O aumento do consumo da classe C ficou abaixo da média nas compras de bolachas, sobremesas prontas, cervejas e sabões em pó e líquido.

Foge à regra o segmento de higiene e beleza, que leva a fama de "indulgência". "A categoria cresce ou cai pouco mesmo em situações econômicas ruins, pois o consumidor se permite levar o xampu ou o hidratante que vai melhorar a autoestima", diz João Basilio, presidente da Abihpec, que reúne o setor.

O estudo destaca também a queda de 3,6% nas idas ao mercado, mas com elevação do tíquete médio a cada a visita. O comportamento é típico de momentos inflacionários, em que o consumidor antecipa a compra e estoca em casa para garantir o valor do dinheiro antes que a mercadoria seja remarcada.

"Funciona como gestão do orçamento, evitando a compra de impulso", diz Araújo.

A maior demanda da classe média por marcas baratas e a procura por feiras e comércio informal também favorecem a mudança, segundo Renato Meirelles, presidente do instituto Data Popular.

JANTANDO EM CASA

No grupo AB, por outro lado, o avanço veio da mudança de hábito dos consumidores da classe B, que em busca de economia reduziram a frequência nos restaurantes.

A substituição pela alimentação em casa aparece no aumento de gastos com perecíveis, que avançou 14,5%, categoria que mais cresceu.

A classe alta é a que menos sente o momento econômico enquanto a média e a baixa sofrem com a desaceleração do emprego e da renda, afirma o professor de varejo Juracy Parente, da FGV-SP.

"A alimentação representa um percentual menor nas classes mais altas, que são menos sensíveis ao aumento do preço. Mas na classe mais baixa, a inflação os forçou a reavaliar a cesta de compras. É possível que isso tenha se refletido no consumo", diz.

Para Adriano Amui, professor da ESPM-SP, os limites do consumo da classe C já podiam ser previstos.

"No segundo mandato de Lula, depois que a alta do crédito já havia sido usada para carro e eletrodoméstico, veio o trade-up' na alimentação, que é o acesso a produtos mais caros. Com a inflação, medidas de restrição começaram a ser tomadas."

Para Fabio Pina, economista da Fecomercio-SP, o aumento do consumo não foi acompanhado por avanço semelhante na capacidade produtiva no país. "É difícil manter aquele fenômeno de inclusão por muito tempo."


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