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Japão ainda tenta tirar mulheres de casa

Governo quer aumentar número de trabalhadoras para contornar envelhecimento e redução da população ativa

Esforços, no entanto, esbarram em questões culturais e econômicas e na falta de estrutura para crianças pequenas

EWERTHON TOBACE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TÓQUIO

Entre as metas principais do ambicioso plano de reformas que ficou conhecido como "Abenomics", uma delas acabou se tornando uma pedra no sapato do líder japonês Shinzo Abe: incorporar as mulheres a um dos mais desiguais mercados de trabalho do mundo desenvolvido.

"Um país onde todas as mulheres podem brilhar", diz um dos slogans da atual campanha do governo, que pretende reaquecer a economia empregando mais trabalhadoras para alargar a base da força de trabalho do país.

Isso é necessário porque, com uma população cada vez mais velha, o Japão vai perder, até 2060, mais de 42% da população ativa.

Mas um estudo do Instituto Nacional de Pesquisa da População e da Seguridade Social mostra que perto de 60% das trabalhadoras desistem do emprego em tempo integral quando têm o primeiro filho, por dificuldade em conciliar trabalho e família.

Muitas delas retornam apenas para ocupações em meio-expediente, com baixos salários, o suficiente para complementar a renda familiar.

Foi o que aconteceu com Yukiko Koizumi, 54, mãe de três filhos. Ela deixou a função de professora de música para cuidar da família. "Na verdade, fui obrigada a deixar o trabalho caso não quisesse ficar sozinha. A tradição japonesa, que prega que a esposa tem de criar os filhos em casa, e a falta de incentivos para quem quer trabalhar são grandes barreiras ainda para as mulheres." Hoje, com os filhos criados, Yukiko arranjou um trabalho de auxiliar para alunos estrangeiros em escolas públicas.

"O atual sistema de seguro social também impede as mulheres de participar plenamente do mercado de trabalho", reforçou a socióloga Tomoko Ohtsuki Abe.

Ela diz que, no Japão, culturalmente, paga-se mais aos homens para que eles possam sustentar toda a família. "As mulheres também preferem manter ganhos baixos para obter maior dedução fiscal no imposto de renda."

Especialistas citam ainda a cultura corporativa machista, a inflexibilidade de horários e a falta de creches como fatores que tolhem trabalhadoras que são mães.

O resultado é um contingente de pouco mais de 3 milhões de mulheres desempregadas, apesar do desejo de voltar ao mercado de trabalho, conforme dados de 2013 divulgados pelo Ministério do Interior.

MAIS MULHERES CHEFES

Para aliviar a escassez de creches, o governo Abe se comprometeu a criar 200 mil novas vagas até março de 2015 e outras 200 mil até março de 2018. Também prometeu criar opções de programas pós-escola até 2020.

Enquanto isso, firme em seu propósito, Abe pediu às empresas para que tenham ao menos uma funcionária em uma posição de chefia. A ideia é ter 30% de mulheres ocupando cargos de gerência até 2020, quando o país sediará os Jogos Olímpicos.

Os esforços ainda não tiveram o efeito desejado, mas houve um pequeno aumento, de menos de 2%, na participação das mulheres no mercado de trabalho. Segundo números do governo, em 2013 o número de trabalhadoras teve um aumento de 470 mil e chegou a 27 milhões --contra 36 milhões de homens. Foi o maior crescimento percentual desde 1991.

Estimular o trabalho das mulheres faz parte da "terceira flecha" do plano de Abe --a que inclui reformas em diversos setores.

As outras duas, principais, são estímulo fiscal e política de expansão monetária agressiva. Por meio delas, passado pouco mais de um ano e meio desde seu lançamento, o plano tirou o país de duas décadas de deflação e de uma recessão profunda.

Mas dados negativos divulgados recentemente --fraco consumo interno, baixo aumento de salários e pouca abertura de vagas de emprego-- mostram que os desafios ainda permanecem.

Para analistas, plano mostra sinais de fraqueza
folha.com/no1494802


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