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Esquema chinês dribla taxa antidumping

Empresas oferecem a importadores no Brasil documentos que forjam origem de cerâmica; governo vai investigar

Sobretaxa é aplicada desde julho, e não há dados sobre efeitos de fraude; firma diz propor "solução de comércio"

RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO

No início do mês, empresários do setor de cerâmica receberam um email de uma empresa chinesa oferecendo seus serviços para falsificar documentos e burlar as sobretaxas antidumping aplicadas pelo Brasil para importar porcelanato, tipo de ladrilho de alto valor agregado usado na construção civil.

A Folha teve acesso ao email e conversou com um representante da empresa XFA Group Forwarding, sediada em Shenzhen, que confirmou o esquema. A reportagem informou o governo, que vai investigar o caso.

"Já há indícios suficientes para apurar. Vamos chamar o setor para fazer uma avaliação técnica", afirmou Daniel Godinho, secretário de Comércio Exterior.

A operação funciona assim: o porcelanato chinês é embarcado para a Malásia, troca de contêiner na área de livre comércio ou num armazém já dentro do país, e segue para o Brasil.

Os chineses garantem todos os documentos falsos necessários, como declarações de origem e nota fiscal de uma empresa da Malásia.

Dessa forma, os produtos chegam ao Brasil como se fossem fabricados na Malásia e se livram da sobretaxa aplicada contra o produto chinês. A fraude é evidente porque na Malásia não há fabricantes de porcelanato.

Como as tarifas antidumping foram aplicadas há pouco mais de um mês e as importações são planejadas antecipadamente, ainda não há registro de queda de compras da China nem de aumento de embarques para a Malásia.

"Estamos monitorando as estatísticas", diz Antônio Carlos Kieling, presidente da Anfacer, que reúne fabricantes como Portobello e Eliane. "Eles foram muito rápidos, porque os emails começaram a chegar uma semana após a aplicação das sobretaxas."

As tarifas antidumping contra o porcelanato chinês foram aplicadas provisoriamente pelo Brasil no início de julho, após meses de investigação e queda de braço entre fabricantes e varejistas.

A investigação concluiu que os exportadores chineses praticavam dumping e chegavam a vender por US$ 5,87 o metro quadrado um produto cujo preço normal de mercado era US$ 21,37.

Para proteger os fabricantes locais, o governo passou a cobrar sobretaxa de US$ 3,01 a US$ 5,83 por metro quadrado do produto, dependendo da empresa exportadora.

"SOLUÇÃO DE COMÉRCIO"

No email, o grupo chinês qualifica seu serviço como "solução de comércio" e garante que "o custo será muito favorável, porque vai economizar muito em taxa antidumping". A empresa também informa que "tem muitos casos de sucesso no Brasil para esses e outros itens".

"Não é contra a lei, porque todos os documentos são malasianos", disse, por telefone, Simon Lee, funcionário da XFA Group, ao ser questionado pela reportagem se estava ciente que o procedimento é considerado ilegal pela legislação brasileira.

Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral MJorge, as fraudes têm ocorrido em outros casos de dumping de comércio exterior, com desvio de produtos chineses sobretudo para Malásia e Taiwan. "É necessário uma atuação rápida do governo quando se verifica o problema."

O governo informa que poderá tomar várias medidas dependendo da evolução do caso: de uma investigação de falsa declaração de origem a aplicação de multas e ao cancelamento de registro pela Receita Federal.

Se algum importador brasileiro for identificado cometendo fraudes, o caso pode ser levado à Polícia Federal.

OUTROS CASOS

Não é a primeira vez que o governo se depara com esse tipo de fraude. Até agora, já foram investigadas 29 empresas exportadoras que estavam enviando produtos chineses para o Brasil de forma fraudulenta.

Entre os produtos identificados, estão lápis de madeira, malhas de viscose, calçados e outros. Esses itens, sujeitos a tarifas antidumping, chegavam ao país como se tivessem sido fabricados na Malásia, em Taiwan, na Coreia do Sul e até no Japão para não pagarem sobretaxa.

"O importante é que hoje nós já temos todos os mecanismos e as regras para lidar com esse tipo de fraude", afirma Godinho.


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