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Banqueiro era um mestre na arte de ficar bem com os governantes

Nas eleições de 2002, foi o 1º estrangeiro a se aproximar de Lula, a quem deu uma gravata rubra

Botín se inspirava em filósofo chinês que preconizava ocupar o terreno antes, para estabelecer posições

CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA

Emilio Botín Sanz de Sautuola García de los Ríos era um banqueiro de sangue e de vocação, mas era também, talvez acima de tudo, um mestre acabado na arte de ficar bem com os governantes, fosse qual fosse a ideologia deles.

Exemplo perfeito, no detalhe: quando Luiz Inácio Lula da Silva parecia ter a liderança nas pesquisas consolidada para a eleição de 2002, Botín solicitou uma audiência com ele, obteve-a e levou como presente uma gravata vermelha, a cor do PT (coincidentemente, também a cor do seu banco de toda a vida, o Santander).

Estamos falando de um tempo em que Lula ainda assustava muita gente no setor empresarial, especialmente no mundo financeiro, tanto que o megainvestidor George Soros chegou a dizer à Folha que ou José Serra se elegia ou os mercados imporiam o caos ao Brasil.

Botín não se assustou. Ao contrário, acomodou-se ao político que ainda tinha características de esquerda, que abandonaria uma vez alcançado o poder.

O encontro com Lula provavelmente se enquadra na sua filosofia de vida, calcada em máximas de Sun Tzu, filósofo guerreiro chinês que escreveu a "Arte da Guerra", faz mais de 2.500 anos, conforme o relato de Miguel Ángel Noceda para a edição on-line de "El País".

A frase que o inspirou é "aquele que ocupa o terreno primeiro e espera o inimigo tem a posição mais forte. O que chega mais tarde e se precipita ao combate já está debilitado".

Botín pode não ter sido o primeiro homem de negócios a "ocupar o terreno" junto a Lula, mas foi certamente o primeiro estrangeiro a fazê-lo, o que assegurou vida tranquila ao Santander na era Lula.

O desejo de manter essa aproximação com os governantes, sejam quais forem, reapareceu há pouco, quando mandou demitir analistas do banco que fizeram um relatório muito negativo para o governo Dilma.

Mas não é apenas no Brasil que Botín cultivou relações cordiais com os governantes de turno. Na Espanha, transita por igual com governantes do conservador Partido Popular e do Partido Socialista Operário Espanhol. Nunca faz críticas a eles, ao menos em público, mesmo nos cinco anos mais recentes, que foram de crise intensa no país e, por extensão, de críticas duras às políticas adotadas por José Luis Rodríguez Zapatero (PSOE) e depois aprofundadas por Mariano Rajoy (PP), o atual governante.

Esse comportamento e a força do banco ajudam a explicar por que Botín é permanentemente consultado pelos chefes de governo.

É razoável supor que a frase de Sun Tzu já citada explique também a compra do Banespa, que permitiu a Botín fincar a bandeira do Santander no país.

Numa conversa informal com Olavo Setubal, então o grande nome do banco Itaú, ele me disse que achava um absurdo o valor que Botín oferecera pelo banco estatal paulista, talvez por não conhecer bem o mercado brasileiro.

A explicação de Botín era outra e seguia Sun Tzu: ocupar o terreno. Ocupou tanto que o que era um pequeno banco familiar transformou-se no maior na Europa e no 11º maior do mundo.


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