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Mercado - MPME

Era uma gastança irracional

(...) Antes da bolha da internet estourar, já sabíamos que aquilo não tinha como terminar bem. Nada justificava o que estava sendo gasto

RESUMO Paulo Veras, 42, é um veterano do mercado da internet: já teve seis empresas e se acostumou com um ambiente que oscila entre o deslumbre e o desespero. Ele tinha uma empresa que fazia sites até pouco antes do estouro da bolha de 2000 e lembra da euforia dos investidores --era óbvio que aquilo não ia acabar bem, conta.

(...) Depoimento a

VICTÓRIA MANTOAN DE SÃO PAULO

Quando eu estava na Escola Politécnica da USP, já usava a internet. Ainda não tinha aquela interface gráfica, o browser não existia. Eu tinha alguns amigos de colégio e queríamos abrir um negócio na internet, mas não sabíamos muito bem o quê.

Nós tínhamos certeza de que a internet ia mudar o mundo. Em 1995, resolvemos criar a Tesla, para desenvolver sites para as empresas, porque na nossa visão era certo que todo mundo ia estar na internet em alguns anos.

Nós começamos criando o Guia SP, que por muitos anos foi o único guia on-line no Brasil. Fizemos para aprender a fazer um projeto que pudéssemos entregar.

O Guia SP foi ao ar em fevereiro de 1996. Nós pagamos, na época, US$ 1.000 para fazer o registro do domínio e a hospedagem. É uma coisa que hoje você consegue fazer com US$ 10, US$ 15, às vezes até de graça.

Então começamos a pegar clientes. Fizemos os primeiros sites em que você conseguia efetivamente fazer compras on-line. Entre os nossos clientes, estavam a Livraria Siciliano e a rede Sé Supermercados.

Em 2000, vendemos o Guia SP para a Star Mídia, uma empresa que na época estava valendo quase US$ 5 bilhões na Bolsa americana, e vendemos uma participação da Tesla para bancos de investimento. Por uma questão de confidencialidade, não posso divulgar os valores.

Mas logo começamos a ver que as empresas de internet estavam começando a dar problema. Tinha muito dinheiro sendo gasto. Nós não entendíamos aquilo tudo. Havia um comportamento completamente irracional.

As empresas grandes, tradicionais, tentavam entrar no mercado, criando sites. Antes de a bolha estourar, no auge da gastança, nós já olhávamos pensando que aquilo não tinha como terminar bem. Nada no mundo justificava o que estava sendo gasto.

Em 1998 e 1999, o negócio ficou muito irreal. Quando houve o tombo da Nasdaq, em 2000, foi um choque de realidade para todos. Todo mundo parou de investir, os projetos foram todos congelados. Ninguém queria botar mais um centavo.

A Tesla começou muito pequena. Em 1999, chegamos a ter centenas de funcionários. Com o estouro da bolha, tivemos que encolher. Diversos concorrentes quebraram.

O nosso mérito foi entender o contexto da crise e reduzir bastante a folha. Infelizmente, isso quer dizer demissões.

Eu fui fazer um MBA na França. Resolvi sair da Tesla. Tirei mais um ano sabático e depois trabalhei em consultoria e na ONG Endeavor.

Em 2009, o mercado já estava se preparando para ter mais projetos de internet de novo, havia capital chegando, eu achei que seria uma oportunidade de voltar.

O primeiro negócio que eu montei foi uma produtora chamada Pixit, de vídeo digital. Foi uma proposta que deu certo, nós conseguimos uma carteira de clientes muito boa. Vendemos a Pixit em 2012.

Em 2010, eu fiz o Imperdível, um site de compras coletivas que cresceu muito rápido. Cinco meses depois, a gente estava vendendo R$ 3 milhões por mês, com cem funcionários. Mas logo o mercado de compras coletivas começou a implodir --o modelo de negócio não funcionava.

A percepção que eu tive de "putz, o negócio não dura mais dois meses" foi muito forte. Eu levei isso para os outros sócios e eles discordavam de mim. Então eu vendi minha parte para eles. Eles investiram mais dinheiro, mas o negócio já não parava em pé.

Aquilo foi uma experiência muito dura para mim. Mas quanto antes você encarar a realidade, melhor.

As pessoas tendem a se agarrar muito ao projeto. Você tem que tentar sempre, por mais difícil que seja, enxergar o mercado de forma isenta. É preciso estar muito aberto para escutar o que as outras pessoas estão falando: seus clientes, seus parceiros, seus funcionários.

Depois do Imperdível, em 2012, eu comecei a 99Taxis, que eu estou tocando hoje. É minha sexta start-up digital.

Eu já vivi períodos de euforia, de depressão. A vida tem dessas coisas. Às vezes você acha que está tudo ótimo, mas não está. Às vezes você acha que está tudo perdido, mas há uma luz no fim do túnel.

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o que aprendi

Demissões
Nos momentos de crise, demitir pode ser inevitável --a outra opção é quebrar

Realismo
As pessoas tendem a se agarrar muito ao projeto. É preciso tentar sempre, por mais difícil que seja, enxergar o mercado de forma isenta. É preciso estar muito aberto para escutar o que clientes, parceiros e funcionários estão falando

o que levou à crise

No fim dos anos 1990, os investidores acreditavam ter encontrado um pote de ouro nas "ponto.com". Empresas recém-criadas recebiam milhões, na expectativa de lucros futuros. A Nasdaq, Bolsa americana de ações de tecnologia, era o futuro, em oposição ao índice Dow Jones, associado à "velha economia". A bolha estourou em 2000 --em poucos meses, a Nasdaq caiu de 5.000 pontos para menos de 1.500. Ficou óbvio: a euforia era irracional. Muitas das promessas da internet jamais conseguiriam dar lucro


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