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Mercado - MPME

Ninguém investe

(...) O governo tem uma crise de credibilidade; a consequência: o empresário opta por encolher

RESUMO André Garcia, 55, é dono de uma empresa de catracas e pontos eletrônicos desde 1984. Ele considera que a atual situação econômica é a pior já enfrentada por sua empresa. Há dois anos, ele tinha 180 funcionários; hoje, são 70. "Os funcionários ficam pensando se estarão no próximo corte", afirma.

(...) Depoimento a

BÁRBARA LIBÓRIO DE SÃO PAULO

Sou engenheiro eletrônico e, em 1984, fundei a Trix, que fabrica equipamentos como catracas, máquinas de ponto e outros produtos para controle de acesso.

Passei pelo congelamento de preços na década de 1980 e pelo Plano Collor no começo dos anos 1990, mas nenhuma crise econômica foi tão grave como a de agora.

De um ano pra cá, o faturamento tem caído consideravelmente por questões externas. Minha empresa chegou a faturar R$ 25 milhões por ano e hoje isso caiu pela metade. Além disso, demiti 60% dos meus funcionários --cheguei a ter 180 há dois anos; agora, tenho 70.

É difícil manter o clima de otimismo na empresa. Os funcionários ficam pensando se estarão na lista do próximo corte. Sei que isso gera desânimo para eles. E o resultado das demissões também demora, porque você tem todos os custos de mandar um profissional embora.

Além disso, tem os sindicatos. Pedem que a gente diminua a carga horária e aumente os benefícios, mas este ano está difícil. Não tem de onde tirar. Tenho sorte de os meus funcionários se solidarizarem com a situação que eles sabem que não está boa.

E ainda teve a Copa do Mundo neste ano. Foi um terror. Quem paga a conta é o empresário. A gente não produz nos dias de feriado, mas continua pagando salário, férias e décimo terceiro.

Até 2008, a empresa teve um crescimento linear. Em 2009, a crise americana deu uma perturbada, mas foi efetivamente em 2012 que as coisas começaram a dar errado.

Acredito que empresas jovens estão mesmo suscetíveis a idas e vindas do mercado, mas companhias como a minha, que já tem 30 anos, para degringolar dessa forma, precisam de uma soma de fatores: a dificuldade de acesso ao crédito pelas pequenas e médias empresas, os juros altos que impedem empréstimos a longo prazo para investimentos em desenvolvimento, a alta da inflação e a recessão técnica e, principalmente, a séria crise de credibilidade do governo.

Essa é a principal diferença entre essa e as outras crises: nas outras a gente ainda tinha esperança de que algo desse certo, mas, dessa vez, os empresários não acreditam na competência do atual governo para resolver. Nunca vi isso em 30 anos. Ninguém está investindo.

Não há muito o que fazer. Acho que cada empresário tem que olhar para o seu copo. Não importa se ele está meio cheio ou meio vazio, mas é preciso ver se ele está enchendo ou esvaziando.

Meu conselho é: se está enchendo, investe, caso contrário, enxuga. Eu estou enxugando. Não tem jeito.

Já pensei até em sair do país. Antigamente, eu tinha até bandeira do Brasil na minha empresa, mas não dá mais para continuar dando murro em ponta de faca.

Minha esperança são as eleições, mas acho que, se demorou uns três anos para degringolar, demora mais uns três para darmos jeito nisso.

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o que aprendi

Encolhimento estratégico
Cada empresário tem que olhar para o seu copo. Não importa se ele está meio cheio ou meio vazio, mas sim se ele está enchendo ou esvaziando. Meu conselho é este: se está enchendo, investe, caso contrário, enxuga

o que levou à crise

A economia do Brasil encolheu nos dois primeiros trimestres deste ano, puxada pela queda na produção da indústria e pela redução nos investimentos públicos e privados, que caem há quatro trimestres. Internacionalmente, considera-se que dois trimestres de PIB negativo configuram uma recessão técnica, embora o governo brasileiro negue tal título


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