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Entrevista - Mauro Borges

Empresários querem que Brasil se torne o México?

Para ministro do Desenvolvimento, abrir mais a economia seria "desastre", e queda no comércio internacional é global

RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO

O ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, está inconformado com as críticas que a presidente Dilma Rousseff vem recebendo de empresários na campanha eleitoral.

"Os empresários não querem política industrial ativa? Querem que a economia brasileira se mexicanize, transformando a indústria em uma linha de montagem?"

Ele se refere à indústria maquiladora que dominou a economia mexicana nos anos 90, fez do país um polo de montagem, e se erodiu com a transferência da produção para a China, sem ter desenvolvido a economia local.

Para Borges, o Brasil perdeu saldo comercial por ser uma economia muito aberta. O ministro rechaça críticas de que Dilma não dialogue com o setor produtivo, e afirma que as empresas voltarão a investir depois da eleição.

Folha - Por que as empresas não estão investindo?
Mauro Borges - Vivemos uma transição. Houve um ciclo de expansão na economia mundial, que se esgotou. O ciclo brasileiro foi colado ao global, mas a economia brasileira está se preparado para uma nova expansão.
Estamos criando as condições, e tem um ajuste, pois o esforço anticíclico da economia brasileira [medidas para estimular o crédito quando o crescimento desacelerou] foi muito forte. Também há um fator de curtíssimo prazo: a eleição. Isso cria expectativa em relação à política econômica do próximo governo.

Os empresários reclamam do intervencionismo do governo.
Eles têm razão em alguns aspectos, não em outros. Várias regras do jogo não estão bem definidas, e é obrigação do Estado fixar marcos regulatórios para as concessões.
Mas tem um lado obscuro da queixa empresarial. A política industrial é intervencionista? Os países ricos são desenvolvidos porque tiveram uma política industrial ativa. Os empresários não querem política industrial ativa? Querem deixar para o mercado resolver falhas inerentes a esse sistema?
Ao inovar, a empresa não sabe o resultado, o que gera risco. O Estado entra para reduzir a incerteza e subsidiar o setor privado. Quais empresários se queixam? Os industriais que recebo louvam a atitude do governo. São empresários do setor financeiro?

Eles reclamam da falta de diálogo com a presidente.
A imprensa divulga isso de forma fantasiosa. A presidenta recebeu diversas vezes o fórum nacional da indústria para discutir uma pauta comum. O ministro Guido Mantega [Fazenda] recebe empresários semanalmente. Eu devo ter recebido [desde fevereiro, quando assumiu] mais de 300 empresários. Essa reclamação é propaganda enganosa de empresários que são contra a presidenta.

Pedro Passos, do Iedi [que reúne os grandes empresários brasileiros], diz que o Brasil precisa abrir sua economia para ser mais competitivo.
Ele está equivocado. A visão dele é que a abertura comercial é um instrumento de política industrial. Seria um desastre para a indústria brasileira. A política comercial é favorável à competitividade, desde que acompanhada de política industrial ativa. Nenhum país fez abertura comercial unilateral.

O argumento é que a abertura da economia baratearia o custo dos insumos no Brasil.
Isso esvaziaria as cadeias produtivas, caminharíamos para a mexicanização, transformando nossa indústria em linha de montagem. Se os candidatos de oposição defendem isso, têm que explicitar. Significa renunciar a um esforço de industrialização de 50 anos.

Os críticos dizem que Dilma focou a política industrial e esqueceu a comercial. O Brasil não fechou nenhum acordo.
Quem fechou acordo nesse período de transição da economia global? O acordo entre EUA e países da Ásia não andou. Entre EUA e Europa, também não. Com a recessão, aumentaram as práticas desleais de comércio. O mundo ficou mais fechado. O comércio global está estagnado há quatro anos.

O superavit brasileiro caiu de US$ 20 bilhões para quase zero no governo Dilma. Por quê?
Porque somos uma economia relativamente aberta. Se fosse o contrário, teríamos segurado uma parte importante das importações que substituíram a produção nacional. Fomos dizimados por importações desleais. Por isso somos campeões de medidas de defesa comercial.

Por que o acordo com a União Europeia não saiu?
O Brasil fez o dever de casa. Concluímos a oferta há mais de um ano. Iniciamos as negociações com os parceiros do Mercosul para a oferta única, concluída. Só que os europeus não fecharam a deles.

Por que o Brasil nunca negociou um acordo com os EUA?
Temos que retomar com profundidade essa relação, que é antiga e importante. Sou contra um acordo com os EUA, pois as duas economias não estariam preparadas. Não seria aprovado pelo Congresso americano e não é prioridade para o Brasil.
As tarifas de importação entre os dois países são baixas. O avanço nos acordos tem que ser regulatório, como eliminar a bitributação. Os economistas ligados a outros candidatos acham que devemos nos submeter às regras americanas? Temos que aprofundar o debate.

Pelo plano Brasil Maior, os investimentos deveriam ter atingido 22,4% do PIB. A expectativa é que fiquem abaixo de 18%. A política deu certo?
O plano é um sucesso. Ele impediu a recessão. Seguramos o emprego por três anos em um momento de desaceleração mundial. Se a indústria tivesse um desemprego crônico, puxaria a economia para a recessão. O segundo ganho é estabelecermos fundamentos para um novo ciclo de expansão com a indústria mais competitiva. As condições estão amadurecendo.

O resultado fiscal se deteriorou por causa desonerações para vários setores. Essa política será mantida?
O ministro Mantega deixou claro que o componente anticíclico [medidas que vão contra o que o momento econômico sugere, como estimular consumo durante uma desaceleração ou elevar juros em momentos de expansão] seria eliminado e que manteria os elementos estruturais.
A desoneração da folha de pagamentos, por exemplo, veio para ficar. Já a redução do IPI sobre móveis, eletrodomésticos e carros tende a voltar à normalidade.


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