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Discreta e dedicada, chefe do IBGE vira cara da crise

Wasmália Bivar ascendeu sem padrinho político e se desgastou com Brasília

Após instituto errar em pesquisa, funcionária de carreira que tentou remodelar o sistema é criticada por falhas

MARIANA CARNEIRO ENVIADA AO RIO PEDRO SOARES DO RIO

Quem conhece a presidente do IBGE, a economista Wasmália Bivar, não duvida de que ela resistirá à crise que a faz balançar no cargo.

Desde que admitiu erro na principal pesquisa socioeconômica do país, há nove dias, o IBGE enfrenta críticas do governo, se defende de suspeitas de manipulação e lida com rumores sobre a exoneração de sua presidente.

Primeira mulher a presidir o IBGE, Wasmália, 54, enfrenta o desgaste resultante de batalhas que assumiu tanto internamente quanto na relação com o governo.

Em 2011, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) decidiu alçá-la à presidência. Sem padrinhos políticos, ela não é filiada ao PT, nunca militou e, diferentemente dos antecessores, foi escolhida apenas pela carreira no IBGE.

É parte de um grupo de servidores apaixonados, que só algumas instituições são capazes de criar, como o IBGE e a Petrobras. Nem duas cirurgias para se livrar de um câncer no cérebro a afastaram do instituto. A última, em 2013. Em 2011, o tratamento adiara em oito meses sua posse.

A falta de um apoio em Brasília, se lhe dá independência, enfraquece-a nas disputas políticas. Seus aliados dizem que as críticas mais duras partem da Casa Civil. O ministro Aloizio Mercadante era o "padrinho" do ex-presidente Eduardo Nunes, substituído por ela. Após a destituição, Nunes se aposentou.

Wasmália é uma das idealizadoras do chamado sistema integrado de pesquisas domiciliares. Ela chefiava a poderosa Diretoria de Pesquisas quando a ideia nasceu: centralizar a execução e a análise de levantamentos como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares).

A entrada da nova operação, que começou neste ano, ocorre simultaneamente às pesquisas feitas à moda antiga. Funcionários passaram a dizer que o trabalho havia aumentado além da conta.

O ex-presidente do IBGE Simon Schwartzman, que ocupou o cargo nos anos 90, afirma que o instituto tem um "formato antiquado", com muitos profissionais de ensino médio e um contingente de ensino superior menos numeroso e com salários pouco atrativos. "Não consegui mudar no meu tempo e parece que continua sem solução".

Ironicamente, foi o primeiro resultado de sua inovação, a Pnad contínua --versão da pesquisa-mãe que sai trimestralmente-- o estopim de suas desventuras. O governo quer usar a pesquisa para dividir repasses a municípios e Estados e não aceita variações na margem de erro. Mas esse tipo de levantamento não contorna bem o problema, e será difícil atender ao governo.

Dizer não a Brasília desgastou gradualmente Wasmália.

Há dois anos, por exemplo, o IBGE foi instado a medir a quantidade e o valor da água consumida pelos brasileiros. Com outras prioridades, a ideia não avançou. Ministérios pedem pesquisas e esbarram nas mesmas limitações.

Para atender o pedido do governo sobre as margens de erro, Wasmália tentou suspender a divulgação da Pnad Contínua. Foi acusada de tentar esconder o desemprego mais alto e recuou. Há cerca de um mês, sofreu um revés: o governo cortou duas pesquisas em 2015. Os recursos ajudam a repor equipamentos e a modernizar as unidades que ficam nos Estados.

Acuada pelo sindicato, pelo governo e pela opinião pública, cercou-se de um grupo pequeno de técnicos respeitados, como Roberto Olinto e Cimar Azeredo. A fidelidade a ela é também intelectual.

Em 1991, com tese de mestrado premiada pelo BNDES, poderia trocar o IBGE pelo banco. Abriu mão do salário maior e escolheu o segundo.

Pesquisadores externos consideram injusto logo ela, a técnica fiel e bem formada, virar a dona da crise. Para aliados, sua desventura se deve à deformação política.


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