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Para atrair clientes na crise, lojas na Espanha voltam a aceitar peseta
R$ 4,9 bi estão à espera de conversão, que pode ser feita até 2020
Há um ano e meio, em uma Espanha afundada no brejo da crise econômica, a empresária Paloma Jareño decidiu voltar no tempo. Ela passou a aceitar pagamento em pesetas, a moeda antiga do país, e atrair, assim, clientes.
As pesetas circularam na Espanha do século 19 até 2002, quando foram trocadas pelo euro. Mas, uma década depois, o Banco da Espanha estima que ainda haja €1,6 bilhão (R$ 4,9 bilhões) nessa moeda à espera do câmbio. Será possível fazer essa conversão até 2020.
"Colocamos um cartaz de que aceitávamos pesetas e as pessoas começaram a vir", diz Jareño. Ela gerencia a loja Fantasia de Chocolate, onde recebeu neste ano mais de 600 mil pesetas de 400 clientes para o pagamento.
"Em tempos de crise, temos de nos reinventar", diz. A empresária adaptou o sistema do caixa para aceitar a moeda antiga e não cobra taxa pela conversão. A peseta é trocada pelo euro em um câmbio fixo desde seu fim: € 1 vale 166 pesetas.
"Eles compram presentes, lembrancinhas. São pessoas que não gastariam dinheiro, se fosse em euro", afirma.
LOIRA
As pesetas são vistas com carinho na Espanha --onde essa moeda é apelidada de "loira". "Nós gostamos dela. Perdemos dinheiro com o euro, há nostalgia", afirma Laura Miso, proprietária da loja de chá Té y mi Gordy, no bairro madrileno La Latina.
Miso reúne as moedas em uma caixa e vai ao banco para trocá-las quando já tem uma grande quantidade delas. Em uma ocasião, diz ter encaminhado uma cliente diretamente ao banco: "Ela me trouxe um milhão de pesetas. Teria de vender toda a minha loja para ela", brinca.
Com um câmbio fixo em relação ao euro, as pesetas mantiveram o valor durante a década. Mas o aumento dos preços no país fez com que, na prática, quem tenha guardado a "loira" em casa tenha visto ela perder mais de um quarto do poder de compra.
Para o analista de varejo Asis González de Castejón, da Nielsen, aceitar a peseta como pagamento é um exemplo de como um empresário pode diferenciar seu negócio em tempos de crise econômica. É uma maneira, afirma, de personalizar o serviço e conquistar o cliente.
"O consumidor espanhol faz hoje uma compra mais racional", diz o analista. "Ele vai a mais lojas e gasta menos em cada uma delas."