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Turismo é setor imune à crise argentina
Ao contrário de outras atividades do país, prejudicadas pela economia, segmento ganha com peso desvalorizado
Eventos corporativos e mercado latino impulsionaram fluxo de turistas, que ainda não é afetado por calote
O turismo vem se mostrando um setor blindado à atual crise econômica na Argentina. Em julho, quando o país entrou em calote técnico de sua dívida, as visitas de turistas internacionais cresceram 6,6% na comparação anual.
Neste ano, o setor espera quebrar o recorde de chegadas de visitantes, ultrapassando a marca de 5,7 milhões atingida em 2011.
O segmento, que representa cerca de 7% do PIB, parece não sentir os impactos dos problemas econômicos que afetam o setor produtivo.
O bom desempenho é explicado pelo fortalecimento de três mercados: o corporativo, o interno e o latino, com turistas atraídos pelos preços competitivos no país.
Com esses eixos se consolidando nos últimos anos, economistas acham que a situação atual não é dramática a ponto de afastar visitantes.
"Não há uma guerra para que as pessoas duvidem se vêm ou não", diz o diretor do Observatório de Turismo de Reuniões da Argentina, Pablo Singerman.
Para eles, a crise não se agravou tanto para dar à Argentina uma imagem decadente --como ocorreu em 2001, quando a situação social e política chegou ao limite, com moratória e cinco presidentes em 12 dias.
Para o diretor do mestrado em turismo da Universidade Nacional de San Martín, Federico Esper, as consequências da crise econômica são secundárias e se manifestam sobretudo pelo câmbio.
TURISMO CORPORATIVO
A desvalorização do peso, aliada a um plano de marketing para atrair eventos, levaram o turismo corporativo a dar um salto em poucos anos.
Dados do ministério do turismo argentino mostram que, entre 2007 e 2013, o número de congressos internacionais realizados no país cresceu 250%.
Além disso, Buenos Aires foi a cidade do continente mais bem colocada no ranking da Icca (associação internacional de congressos) em 2013.
As campanhas para divulgação da estrutura e dos atrativos dos Estados são feitas em conjunto por governo e empresas. No segmento, as relações entre esses atores fogem dos usuais conflitos entre público e privado no país e se mostram mais amigáveis.
A atividade ganhou mais atenção após a sanção da lei de turismo nacional, em 2004, que a transformou em política de Estado.
"As empresas entendem que devem dar as mãos aos entes públicos a fim de buscar interesses comuns", diz o presidente a Aoca (associação argentina de organizadores de congressos e eventos), Diego Gutiérrez.
Eles compartilham um objetivo: atrair mais turistas e, consequentemente, mais recursos às terras "hermanas".
Segundo a Aoca, o turista corporativo gera, em média, três vezes mais receita do que o visitante normal. Como geralmente ele tem estadia e alimentação pagos, usa o seu dinheiro para passeios, e presentes, por exemplo.
LATINOS
O fato de latino-americanos e os próprios argentinos estarem viajando mais pelo país também ajuda os números do setor.
A motivação de vizinhos de região na escolha pela Argentina está no aumento do poder de compra no país, devido à situação cambial. Ao mesmo tempo, a desvalorização do peso incentiva os argentinos a viajarem pelo país em suas férias, pois são desestimulados a fazer viagens internacionais.
De 2003 a 2013, as chegadas do turismo interno cresceram 56%.