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Diferença cultural é obstáculo para patrão

Falta de informação e dificuldade de comunicação permeiam convívio

Estrangeiros, sobretudo haitianos e africanos, criticam salários e se mantêm próximos de outros recém-chegados

DE SÃO PAULO

A relação entre imigrantes e empresários ainda é marcada por desinformação e pequenas tensões de convívio.

Os empregadores são atraídos por uma mão de obra conhecida pelo comprometimento ao trabalho. No entanto, muitos desconhecem o processo de contratação de haitianos e africanos --grupos que se destacam na recente onda de imigração.

Dúvidas dos estrangeiros e dificuldades de comunicação agravam esse cenário.

Em uma terça-feira de setembro, um grupo de imigrantes africanos conversava em frente à Igreja Nossa Senhora da Paz, em São Paulo, antes de uma reunião para o anúncio de vagas. Ali fica a Missão Paz, que organiza encontros entre estrangeiros e empregadores brasileiros.

"Existe a ideia de que podemos ganhar menos. Mas o custo de vida é alto. Não podemos escolher, porque sabem que estamos desesperados", disse o congolês Nuhu Mohammed, 37, mecânico que está desde julho no país.

Os imigrantes ao redor concordaram. Dizem que os brasileiros são bem-intencionados, mas criticaram os salários oferecidos. Os valores ficam entre R$ 900 e R$ 1.500.

Os empregadores, insatisfeitos com os funcionários brasileiros por causa da grande rotatividade em cargos de baixa remuneração, buscam nos estrangeiros uma contratação mais estável. E costumam ficar satisfeitos com os novos funcionários.

Entretanto, é comum que as vagas tenham remuneração abaixo da média. Os dois lados reconhecem que a dificuldade de validar certificados estrangeiros no Brasil é um obstáculo.

"Eles são uma mão de obra subempregada. Às vezes têm boa formação, mas a revalidação dos diplomas os afasta das carreiras originais", diz o professor da PUC-Minas e coordenador de um trabalho da OIM (Organização Internacional para as Migrações) Duval Fernandes.

DÚVIDAS

Muitos empresários ignoram as diferenças entre refugiados e solicitantes de refúgio, que podem ter a condição de refugiado negada e serem levados a deixar o país.

Além disso, sabem pouco do que é preciso para tornar funcionário um imigrante.

"Antes, achava que era só passar no pátio da igreja e convidá-los para trabalhar", disse o empresário João Gondim, que tem um buffet.

O gerente de colheita de uma empresa de agronegócios do interior paulista, Fábio Fernandes, pensou em buscar trabalhadores no Acre, mas depois se informou do processo em São Paulo.

Os imigrantes, por sua vez, desconhecem os detalhes da legislação trabalhista. Fernandes, que diz ter estudado a migração haitiana ao Brasil, conta que eles são, por cultura, contestadores e minuciosos com o contrato.

Não são raros os casos de africanos e haitianos que deixam o trabalho por perceber que o salário prometido não estava no contracheque.

"Eles são unidos e vigiam as condições de trabalho de compatriotas", disse.

A língua e as diferenças culturais são outra barreira. Para ensinar a haitiana Barbara a limpar a casa do jeito que a patroa desejava, a treinadora Alessandra Capella teve que recorrer a gestos.

EBOLA

A desinformação sobre a origem dos africanos também é um agravante. No bufê de Godim, uma das funcionárias perguntou se a camaronesa recém-chegada poderia ter ebola --o foco da epidemia, por ora, é em Serra Leoa, na Libéria e na Guiné.

Todas essas questões, fazem com que os imigrantes se mantenham mais próximos de outros estrangeiros.

"Não temos tempo de fazer amigos brasileiros. Acabei me tornando uma referência para imigrantes que chegam. Tiram suas dúvidas comigo", diz o eletricista congolês Milandu Michel, 28. (IF E DG)


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