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Francês leva Nobel por estudar poder de empresa como Google

Jean Tirole, da Universidade de Toulouse, propõe analisar abuso na cadeia de fornecedor e consumidor

Economista também critica a atuação dos reguladores na crise financeira global e do euro desde 2008

TONI SCIARRETTA DE SÃO PAULO

O que empresas como Google, Apple e Microsoft têm em comum além do porte?

São empresas com uma presença oligopolista, pouquíssima concorrência nos segmentos em que lideram e que usam esse poder de mercado sobre fornecedores, consumidores e concorrentes para avançar em ramos complementares de atuação.

O estudo dessas corporações --e os desafios para garantir a competição em seus mercados-- rendeu o Prêmio Nobel de Economia de 2014 para o francês Jean Marcel Tirole, 61, professor de microeconomia da Universidade de Toulouse, fundador da teoria moderna da regulação e de política de competição.

Um exemplo de empresa com esse perfil é a Apple, que de fabricante de computadores pessoais passou a comercializar música e entretenimento por meio do iTunes e da Apple Store.

O Google deixou de ser uma empresa de tecnologia, que gerencia o maior buscador da internet, para se tornar um dos maiores comercializadores de espaço publicitário do planeta mesmo sem produzir conteúdo como os jornais, revistas e TVs.

Para Tirole, não faz sentido analisar o poder de mercado dessas empresas em aspectos como concorrência predatória (vender mais barato para tirar rivais do mercado), que são típicos das situações de oligopólio na comercialização de commodities, por exemplo.

Ele propõe uma análise específica para apurar eventuais abusos como a imposição de preço, ferramentas (softwares próprios etc.) e parceiros (empresas do mesmo grupo) na cadeia de fornecedores, consumidores e concorrentes, entre outros.

"Existem questões sobre como cobrar impostos sobre transações com preço zero, mas cujo valor adicionado é positivo", disse Renato Gomes, professor-assistente da Universidade de Toulouse, que trabalha com Tirole.

"O Google, por exemplo, provê de graça resultados de busca para os usuários. Essa transação de preço zero gera valor para os dois lados: o Google obtém mais dados sobre comportamento na web e vende anúncios patrocinados; o usuário obtém informação sobre o que busca."

No caso do Google, Gomes lembra ainda a possibilidade de práticas anticompetitivas desconhecidas em outros mercados, como vieses no algoritmo de busca que possam favorecer determinados sites.

"Desenvolver instrumentos de regulamentação e tributação nesse ambiente novo é de primeira ordem no atual debate regulatório. Esse prêmio mostra que regulação e política de competição podem ser tratadas de modo sistemático e científico", diz.

CRISE DO EURO

Especialista em telecomunicações nos anos 1980, Tirole dedicou grande parte de sua carreira acadêmica ao estudo da regulação de grandes empresas que se mantiveram na liderança por aproveitar situações de monopólio.

O economista francês trouxe para essa análise ferramentas e modelos sofisticados para entender o comportamento de empresas em cenários de conflito e de cooperação (Teoria dos Jogos) e a formulação de acordos (Teoria dos Contratos).

Desde 2008, Tirole critica o papel dos reguladores na crise financeira global e na crise do euro. Para ele, houve falha na supervisão bancária do setor, que permitiu práticas que colocaram o sistema financeiro em risco.

Com o prêmio, o economista francês receberá cerca de 8 milhões de coroas suecas (R$ 2,67 milhões).


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