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Finanças pessoais

O que falhou no planejamento da compra do carro novo?

Há seis meses José estava exultante. Tinha acabado de realizar o sonho de comprar seu primeiro carro. Foram tantas as alegrias dessa conquista que ele teve razões de sobra para celebrar.

Antes de mais nada, poder exibir um carro novo, o seu carro, e reparar no olhar de inveja dos amigos e vizinhos. Depois, a redução do tempo de deslocamento para o trabalho, sem falar no conforto, muito maior.

Está esperançoso e confiante com a perspectiva de se candidatar a uma vaga na área comercial -agora que ele tem carro próprio- e aumentar sua renda com comissões que ele poderá ganhar se for bem-sucedido.

Viajar nos finais de semana e conhecer novos lugares serão também um enorme prazer. José merece tudo isso e muito mais.

PLANEJAMENTO

Antes da compra, José fez uma boa lição de casa. Já vinha controlando suas despesas, enxugando gastos, cortando outros, abrindo mão de pequenos prazeres.

Estava se preparando para um objetivo maior, abrir espaço no orçamento para a prestação do financiamento que faria para comprar o carro novo. José ponderou que a despesa com o combustível seria equivalente ao que gastava com transporte público.

E carro novo não gera despesa de manutenção, pensou. Aliás, essa foi uma das razões pela decisão de comprar um carro novo.

José utilizou sua reserva de R$ 7.000 como entrada da compra do carro de R$ 35 mil. Assim, assumiu um financiamento de R$ 28 mil em 36 parcelas de R$ 1.134.

Para arcar com essa prestação, decidiu que deixaria de poupar cerca de R$ 500 mensais, reduziria despesas com celular e refeições fora de casa. Sabia que seu esforço não seria pequeno, mas considerou que valeria a pena.

Há alguns meses o orçamento de José não fecha e ele está usando o limite do cheque especial, o que não fazia antes. O que será que falhou no planejamento de José?

SURPRESAS

José estava convencido de que tinha planejado tudo direitinho quando se preparou para a grande despesa do carro novo: a prestação do financiamento. O que ele não sabia é que, depois de comprar o carro, novos hábitos de consumo viriam.

Foi descobrindo aos poucos que ter um carro é caro, muito além da prestação do financiamento. Antes de tirar o carro da concessionária deixou uma boa soma de dinheiro: taxa de abertura de crédito de R$ 200, licenciamento, mais R$ 650, e a primeira parcela do seguro custou R$ 300. Alguns equipamentos levaram outros R$ 350.

MAIS LAZER

José se acostumou logo com as vantagens da mobilidade e da liberdade que um carro proporciona. Viajou quase todos os fins de semana, fez passeios com a família e foi com mais frequência a shopping centers.

"Isso é que é vida", pensou. Acontece que mais lazer fora de casa acarreta uma série de despesas que não faziam parte do orçamento de José antes da compra do carro. Ele planejou despesa de combustível somente para os deslocamentos de trabalho e está gastando muito mais do que tinha previsto nesse quesito. Refeições fora de casa, estacionamento em shopping, pedágio nas estradas não foram lembrados em seu planejamento.

TRABALHO

José conseguiu a vaga na área comercial e está formando uma carteira de clientes que, no futuro, devem gerar razoável renda adicional com comissões de vendas.

Por enquanto o que aconteceu de concreto na vida financeira de José foi o aumento das despesas com combustível, pedágios, estacionamento e refeições fora de casa durante o horário de trabalho.

A empresa reembolsa apenas parte dessas despesas, e, como a entrada das comissões ainda é pequena e incerta, José está investindo na nova carreira e bancando boa parte dos gastos antes inexistentes.

IPVA E SEGURO

Embora tenha considerado a hipótese de não contratar seguro total para o carro, José decidiu que não podia correr o risco de ficar sem o carro, principalmente depois de assumir uma função na área de vendas. Parcelou o prêmio do seguro, com juros. Uma luz vermelha acendeu quando recebeu a conta do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores).

Depois de alguns meses, José percebeu que tinha perdido o controle e se deu conta de que tinha que reformular todo o seu orçamento. Agora ele tinha novas despesas que fariam parte definitivamente de seu orçamento.

Cortou e reduziu alguns itens para acomodar as despesas do carro. Resgatou as atividades de lazer em casa, muito mais baratas e também prazerosas.

E está poupando novamente para restabelecer a reserva financeira da família.

Aprenda com os erros de José e pense em tudo isso antes de comprar um carro. E lembre-se de que, se o carro for usado, as despesas serão maiores pois envolvem manutenção de peças, pneus, mecânica em geral. A despesa total não será pequena, avalie se o benefício justifica o esforço de todos.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

@bmibrasil


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