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Entrevista Fatih Birol

Expectativa de produção de petróleo no Brasil cai

Economista-chefe da Agência Internacional de Energia diz que dificuldades de logística podem atrasar conclusão de projetos, mas mantém otimismo para prazo mais longo

DE SÃO PAULO

PATRíCIA CAMPOS MELLO

A AIE (Agência Internacional de Energia) reviu para baixo suas estimativas de produção de petróleo no Brasil em 2020, por causa de atrasos nos projetos.

A agência agora projeta produção 10% menor -reduziu de 4,4 milhões de barris diários de petróleo em 2020 para 4 milhões de barris.

Em entrevista à Folha, o economista-chefe da AIE, Fatih Birol, afirma que continua muito otimista com a produção brasileira de petróleo e que "o Brasil ainda mantém as melhores perspectivas para produção de petróleo fora dos países da Opep".

Mas adverte que "dificuldades logísticas de administrar projetos aumentam os riscos de atrasos" na produção do pré-sal. Por isso, diz, eles estão mais "cautelosos".

Neste mês, a AIE divulgou o relatório Perspectiva Mundial de Energia, projetando que os EUA se transformarão nos maiores produtores de petróleo em 2017, ultrapassando a Arábia Saudita, graças a fontes não convencionais como óleo e gás de xisto. Abaixo, trechos da entrevista de Birol à Folha.

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Folha - Nas suas projeções, a produção total de petróleo no Brasil não crescerá tão rápido como a Petrobras prevê e nem como vocês previam no relatório do ano passado. Por quê?

Fatih Birol - Em nosso mais recente relatório, projetamos que a produção de petróleo bruto e gás natural no Brasil vai sair dos 2,2 milhões de barris por dia de 2011 e chegar a 4 milhões de barris em 2020, alcançando 5,7 milhões de barris em 2035. [a estimativa para 2020 foi revisada para baixo neste ano, mas a projeção para 2035, para cima].

Nossas projeções são um pouco mais conservadoras que as da Petrobras, que estima 4,2 milhões de barris em 2020. Mas o Brasil ainda mantém as melhores perspectivas para produção de petróleo fora dos países da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo].

Entre todos os países produtores, o Brasil só perde para o Iraque entre os que mais contribuirão para o crescimento na oferta de petróleo nas próximas décadas. Nossas projeções baseiam-se nos recursos naturais e na avaliação sobre os grandes projetos da Petrobras que devem ficar prontos nos próximos anos.

Avaliando as perspectivas para exploração "offshore" [no mar], projetos para os campos do pré-sal, na escala que têm, serão caros e tecnicamente desafiadores; profundidade da água, complexidade de perfurar, distância da costa e dificuldades logísticas elevam riscos de atrasos.

Como em outros projetos dessa escala, há incertezas em relação ao prazo exato do início de produção, e isso explica nossa abordagem um pouco mais cautelosa. No ano que vem, o Brasil será o país analisado em profundidade no relatório [neste ano, foi o Iraque e, em 2011, a Rússia].

O Brasil enfrenta um problema na capacidade de refino. Como o senhor vê isso?

É comum que países produtores de petróleo sejam dependentes de importação de gasolina e diesel. Países como Arábia Saudita e Venezuela dependem ocasionalmente ou permanentemente de importação de combustível.

Isso está relacionado à origem histórica das refinarias, que se concentram onde, no passado, a demanda era maior. O recente crescimento econômico do Brasil, aliado a subsídios sobre combustíveis [tabelamento do preço da gasolina], levou a um crescimento muito rápido na demanda por combustíveis para transportes.

A capacidade de refino no Brasil tem crescido, mas em velocidade inferior à demanda. A Petrobras anunciou planos para aumentar a capacidade das refinarias [embora tenha reduzido um pouco as metas em seus mais recentes planos de negócios], mas leva tempo para construir refinarias, e elas competirão com projetos de exploração por recursos para investimentos.

No mundo, como não há um deficit na capacidade de refino, esses projetos precisam ser cuidadosamente estudados para que deem os retornos esperados.

Um outro problema é o governo brasileiro manter os preços da gasolina baixos, o que leva a Petrobras a importar o combustível por um preço maior do que o de venda, levando a prejuízo. Como, para o senhor, isso afeta a capacidade da Petrobras de investir?

A AIE é defensora da reforma dos subsídios a combustíveis e apoiou o compromisso das nações do G20 na reunião de 2009 em Pittsburgh [Estados Unidos] de "racionalizar e descontinuar no médio prazo os subsídios a combustíveis fósseis que encorajam consumo supérfluo".

Os subsídios são um fator determinante nas tendências futuras de consumo energético, à medida que os preços baixos aumentam o consumo de combustíveis, diminuindo a quantidade disponível para exportação e reduzindo o incentivo para investir em infraestrutura de energia mais eficiente.

Os subsídios também são um fardo pesado para as autoridades.

O senhor projeta que haverá um grande salto da produção de petróleo fora da Opep. Para esse cenário se confirmar, quais são os pressupostos para o Brasil?

Sim, a produção nos países de fora da Opep deve sair de 49 milhões de barris por dia em 2011 para 53 milhões de barris após 2015, nível que será mantido até o meio da década de 2020.

A alta se deve principalmente à crescente oferta de fontes não convencionais, como as areias betuminosas do Canadá, o gás natural liquefeito e um salto na produção de águas profundas no Brasil, compensando a queda em outros países fora da Opep.

Para a contribuição brasileira se concretizar, os atuais projetos de investimento no Brasil precisam avançar sem muitos atrasos.

O setor de etanol no Brasil passa por uma crise, com várias usinas fechando as portas nos últimos anos. O biocombustível sofre com a concorrência da gasolina com preço mantido artificialmente baixo. Qual é seu prognóstico?

Embora o setor esteja numa época difícil no Brasil, esperamos que se recupere no médio e longo prazo.

Além de recuperar a demanda doméstica por etanol, o etanol de cana do Brasil está bem posicionado para suprir a demanda de outras regiões, porque é um dos combustíveis de menor custo e dos mais sustentáveis.

No cenário básico, o Brasil virará o maior exportador de biocombustíveis no mundo, com exportações chegando a 200 mil barris equivalentes de petróleo por dia em 2035.


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