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Madeira ganha espaço em joias e acessórios de grife

Marcas famosas como Cartier, Van Cleef & Arpels, Stella McCartney e Hermès lideram essa tendência

Baús artesanais de viagem da fabricante Moynat, com loja recém-aberta em Paris, custam até R$ 543 mil

ALICE PFEIFFER DO “NEW YORK TIMES”, EM PARIS

Marc Auclert, fundador da joalheria Maison Auclert, é fã de madeira. Em uma peça típica de suas coleções recentes, ele criou um anel decorado por antigas contas de madeira helênicas revestidas de ouro 18 quilates.

"A madeira sempre terá lugar inquestionável na sociedade. Ela foi fundamental para o desenvolvimento da humanidade, da construção de casas à fabricação de armas, e para fazer fogo", declarou.

Ele não está desacompanhado em suas preferências. Nos anos 30, a designer de joias Suzanne Belperron usou madeira em suas criações para a joalheria Boivin; a Cartier e a Van Cleef & Arpels também a incorporaram ocasionalmente em suas peças.

De fato, nas mãos de artesãos especializados, tanto espécies exóticas quanto comuns de madeira estão encontrando lugar em uma gama ampla de joias caras e acessórios de moda.

"Em meio ao caos urbano, as pessoas anseiam pelo conforto da tradição e estão começando a deixar de lado a inovação tecnológica", afirmou Auclert.

BAÚ DE VIAGEM

A Moynat, fabricante de baús, é uma das beneficiárias da tendência.

Fundada na metade do século 19, em plena Revolução Industrial, a companhia ganhou fama décadas mais tarde com a chegada das carruagens sem cavalo, para as quais produzia baús leves de madeira revestidos de couro ou de lona, desenhados para transporte no topo curvo do veículo.

Mas, quando os transportes mais modernos e os materiais leves mudaram a forma das viagens, no século 20, os negócios da empresa estagnaram.

Essa situação perdurou até 2009, quando o grupo de bens de luxo LVMH, farejando uma mudança de ares, adquiriu a companhia, abrindo uma nova loja da Moynat na elegante rua Saint-Honoré, em Paris, em 2011.

Hoje, a Moynat oferece baús de viagem personalizados que atendem a todas as necessidades -grandes ou pequenas. Mas isso tem seu preço. A fabricação de cada peça pode requerer centenas de horas, o que talvez explique preços que chegam aos € 200 mil (R$ 543 mil).

"O ponto aqui é a verdadeira escassez, o know-how; estamos falando do oposto de vaidade fútil", diz Ramesh Nair, diretor de criação da companhia.

A estrutura de madeira dos baús de viagem é produzida por Jacques Lebroules, um marceneiro que é mestre em restauração, especializado em mobília dos séculos 18 e 19, radicado em Limoges, cidade francesa famosa por sua tradição de artesanato.

Lebroules usa apenas madeira cultivada e envelhecida na França -especialmente nogueira, cerejeira e choupo.

Diversas técnicas usadas no século 19 são empregadas para produzir cada baú, entre as quais moldagem a vapor, uma técnica em uso há séculos entre os construtores de barcos para dar forma às tábuas para que se ajustem às curvas do casco de uma embarcação.

"Hoje, todos reconhecem um material que seja obviamente dispendioso, mas o que fazemos oferece luxo duradouro, um valor constante transmitido de geração a geração", diz Nair.

Outro exemplo disso é a Devi Kroell, uma marca de acessórios e bolsas de Nova York que tem uma linha de bolsas "clutch" (tipo de bolsa de mão) feitas inteiramente de madeira.

Cada peça, entalhada de um só pedaço de madeira envelhecida por dez a 15 anos, demora três dias para ser produzida e requer três tipos diferentes de artesãos. Decoradas com pedras semipreciosas, as bolsas custam entre US$ 2.500 e US$ 3.900 (R$ 5.245 a R$ 8.182).

"Nossas clientes preferem as bolsas de madeiras como alternativa elegante e discreta aos usuais acessórios dourados e ostensivos usados com as roupas para a noite", diz Leyla Karakas, gerente de comunicação da marca. "Elas gostam de usar uma peça elegante, produzida com requinte, mas não ostentação."

DESIGNER BRASILEIRA

A brasileira Regina Dabdab é uma designer de joias radicada em Paris que trabalha com madeira que recolhe na costa da Córsega, naturalmente polida pelo sal e pela areia.

Ela cria peças com essa madeira engastada em prata sólida ou a combina com pedras semipreciosas -ametista, turmalina e cristal de rocha-, compradas diretamente de minas no Brasil. Suas peças custam cerca de US$ 1.500 (R$ 3.147).

"Meus clientes apreciam a aparência bruta. É uma união simbólica com a natureza, carregar no pescoço um pedaço da praia", ela diz. "Hoje existe uma retomada do interesse e da apreciação da natureza, como reação aos problemas ambientais que o planeta enfrenta."

Ela está em boa companhia. A renomada estilista Stella McCartney recentemente criou acessórios de nogueira e cerejeira; a casa de moda parisiense Hermès está oferecendo um relógio de bolso decorado por um mosaico de madeira.

E a Rolf, uma fábrica de óculos da região austríaca do Tirol, que vem fazendo muito sucesso, produz armações de óculos de bambu, carvalho, nogueira, ébano, faia e diversas outras madeiras.


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