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Marco Antonio Bologna

O modelo de concessão de aeroportos é o pior para nós

Para presidente da TAM, que já foi do setor financeiro, aviação é mais arriscada que bancos

Eduardo Knapp/Folhapress
O presidente da TAM, Marco Bologna, em seu escritório, em área anexa a Congonhas
O presidente da TAM, Marco Bologna, em seu escritório, em área anexa a Congonhas
MARIANA BARBOSA DE SÃO PAULO ANA ESTELA DE SOUSA PINTO EDITORA DE “MERCADO”

Embora esteja otimista com relação aos investimentos que serão feitos com as concessões dos aeroportos à iniciativa privada, o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, considera o modelo prejudicial ao setor.

"Portos e rodovias foram concedidos pelo modelo de tarifa mais baixa", diz. "O único modal que vai ser por outorga [maior valor pago ao governo] é o aéreo".

Para evitar que isso se reflita em aumento de tarifas, o executivo defende o fortalecimento da Anac, "a la Banco Central", para que a agência não sofra pressões.

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  • Folha - Qual a sua expectativa com relação à concessão de aeroportos?*

Marco Antonio Bologna - O setor não foi escutado e não esta sendo escutado agora. Este é o pior modelo para nós. Portos e rodovia foram concedidos por tarifa mais baixa. O único modal que vai ser por outorga é o nosso. Quem paga mais, leva. Queremos aeroportos eficientes, a preço justo.

Vai melhorar?

Com certeza. Daqui a cinco anos os aeroportos serão muito diferentes do que temos hoje.

Mas a coordenação da integração dos modais é muito importante. Não adianta aumentar a capacidade de Guarulhos para 50 milhões de passageiros e continuar todo mundo indo pela marginal. Lembra em 1º de janeiro, a inauguração daquela igreja, com 200 mil pessoas? Fecharam o acesso a Guarulhos. Todo aeroporto tem de estar integrado aos sistemas metroviário, rodoviário e ferroviário.

O sr. teme aumento de tarifas?

O modelo de concessão deixou livre, sem controle da Anac, a cobrança do uso de áreas essenciais. Check-in é área essencial. Preciso ter uma sala VIP. Quando a Infraero passou a considerar tudo comercial, houve majoração de preços.

Não se pode esperar ganho de eficiência que compense a outorga mais alta?

No tempo, vamos ver. O que precisamos ter, se é por esse modelo, é uma agência reguladora poderosa e independente.

E o que precisa para a Anac ser assim?

Ser fortalecida. Vai ter pressão sobre tarifa e ela vai precisar ter autonomia suficiente para equilibrar direitos do consumidor, da infraestrutura, e do provedor do serviço. Temos que ser a la Banco Central. Temos que ser exemplo e não somos, nem na região. Temos uma das piores regulações. Há duas regulações no mundo: a americana e a europeia. Vamos ensinar esses caras? Como dizia o Comandante Rolim [Amaro, fundador da TAM], quem não tem capacidade para criar tem que ter capacidade para copiar.

A Anac regula para quem?

No momento ela está muito mais voltada a educar o consumidor. O direito do consumidor é legítimo, mas deveria excluir fatores que a gente não controla. Gostaríamos ao menos de ser ressarcidos. Quando aquele cidadão subiu numa luz de aproximação de Congonhas numa sexta-feira (12 de agosto) às 17h30, o aeroporto fechou por duas horas e meia. Impactamos 1.400 pessoas que queriam embarcar e 1.400 que queriam chegar aqui e foram parar alhures. Somos culpados? Para piorar, ainda somos multados pela Anac. Efeito arrecadatório puro.

O setor vai fechar 2012 com margens bastante negativas. Qual a perspectiva para 2013?

Há uma superpreocupação com a subida nova do câmbio. Essa subida pós-PIB assustou. E já ouvimos alguns setores falando de R$ 2,30. Se isso acontecer, estamos falando de 35% de desvalorização sobre 60% dos nossos custos, uma pancada.

E o combustível?

O petróleo está consolidado numa faixa de US$ 100. Muito difícil que caia. Temos que nos acostumar com esse novo patamar. Enquanto o combustível do automóvel ficou parado, o querosene de aviação subiu 33% em 2011 e 13% este ano, em reais. Com um impacto dessa magnitude, você repensa a capacidade de investimento. Mas é incrível que ninguém fala sobre o custo de capital do setor.

O avião é como uma fábrica.

Quando a gente anuncia 30 aviões: "-Ah, ah, o cara comprou 30 aviões". Só que 30 aviões é US$ 1,5 bilhão, pelo menos. Aí inauguram uma fábrica no Piauí e sai no jornal: "Companhia de celulose investe R$ 1 bi". Avião não é visto como bem de capital, mas de consumo. Trouxemos quatro Boeings-777. "-Ah é, tem primeira classe?" São US$ 200 milhões cada. É uma planta industrial, que gera emprego. É um setor pouco compreendido. É uma mistura de infraestrutura, turismo, comércio, transporte...

Como a TAM se vê?

Transporte modal. Mas na rodovia é diferente. É concessionária, tem pedágio. Se tem fila para Santos no feriado ninguém desce do carro para reclamar. A sazonalidade é compreendida.

O PIB caiu por razões que não exatamente afetam a demanda do setor aéreo. Tem mais gente empregada e mais gente ganhando mais do que ganhava. Isso não deveria significar uma demanda maior?

Ela aconteceu, há uma nova penetração do transporte aéreo. Mas o setor se preparou para uma alta de 3% do PIB. Ainda bem que tem 1,1%, que o emprego está bem, se não estaríamos muito pior. O que mais pega é o choque de custos num momento de menor crescimento.

Como está o repasse dos custos para a tarifa?

Com a economia fraca, não conseguimos fazer recomposição de preço. O que estamos fazendo é disciplina de capacidade. Voando com aviões mais cheios, aumentamos a produtividade.

O alto aproveitamento dos aviões é mundial. Há uma década, o setor aéreo americano trabalhava com ocupação abaixo de 70%, 65%, uma destruição de capital muito grande. O europeu também está disciplinado, a Ryan Air (empresa low cost da Irlanda) é exemplo, com 88%, em média.

A TAM está aumentando a ocupação com passagens mais baratas?

Exatamente isso. A passagem mais cara continua no pico, que é o passageiro de negócios que de manhã fala para a secretaria "me compra uma passagem para o Rio".

São esses que pagam as contas?

O que paga a conta é a somatória de tudo. O que não paga a conta é decolar com 30% de assentos vazios. Somos uma indústria que não estoca o que produz. Produzimos cadeiras voadoras. Estamos tendo mais receita. É uma recuperação de rentabilidade natural. E algum repasse de preço está acontecendo também.

Está acontecendo?

Sim, basta ver as tarifas publicadas. Mas também estamos educando o consumidor a planejar a compra com mais antecedência.

Onde é mais difícil trabalhar? Setor financeiro ou aéreo?

São muito parecidos, em termos de gestão de risco. Mas este é um setor de maior risco. A começar pelo fato de que banco não voa. Mas o que muda, significativamente, são as margens.


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