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Mercado aberto

MARIA CRISTINA FRIAS cristina.frias@uol.com.br

A vida depois de entrar na Bolsa

Como a empresa familiar de moda de luxo Salvatore Ferragamo convive com as exigências de investidores depois de abrir o capital na Bolsa de Valores de Milão em 2011

Logo no início da rua mais sofisticada de Florença (Itália), a Tornabuoni, se vê um dos destacados palácios da cidade, o Spini Feroni, do século 13, sede da Salvatore Ferragamo. Depois de passar pelos pesados portões de ferro, o visitante sobe degraus inclinados de tão gastos nas beiradas, difíceis de galgar até com os sapatos artesanais da grife.

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"Lembra de mudança?", pergunta o presidente Ferrucio Ferragamo, replicando a questão sobre como ficaram as coisas desde que a família passou a prestar contas ao mercado _não o de moda, mas o financeiro. "Não", responde de pronto a diretora de comunicação, Letizia Campana.

"Para mim, mudou um pouco mais porque temos algumas formalidades", afirma. "Mas vivam as regras! Criam disciplina. Se voltasse atrás, colocaria de novo a empresa na Bolsa."

A família tem hoje entre 75 e 80 descendentes de Wanda e Salvatore, o fundador. "O IPO foi uma escolha pensando antes na empresa. Depois, que alguns da família possam querer fazer outra coisa. A Bolsa abre a porta se alguém quiser sair como abre a porta se alguém quiser entrar."

Como competir com concorrentes que produzem na Ásia? "É um dos maiores desafios. Nos impusemos e acreditamos muitíssimo em fazer tudo 'made in Italy'. Para nós é como uma segunda marca porque não prescindimos da qualidade. Talvez as empresas que produzem no exterior tenham mais Ebitda [lucro antes de juros, taxas, depreciação e amortização], mas, penso, somos mais fortes."

Investidores entendem a importância do "made in Italy" ou só pensam em resultados?, pergunto. Ferragamo sorri e se lembra do "road show" por vários países para apresentar a empresa a futuros investidores em 2011.

"Eu havia preparado um belo discurso, dizendo que nós éramos uma bela empresa, que fazíamos tudo na Itália, que isso e aquilo..."

"'E quanto é o Ebitda?', me perguntavam, com a boca estreita. Respondia que era um pouco menor, que pensávamos crescer no futuro, melhorando o estoque, as lojas. Em suma, estavam um pouco apavorados, mas vejo que hoje [a entrevista foi em janeiro] mesmo a ação deu um belo salto, 4,45%, não sei como fechou..."

"Não vejo quase cotações, não me interessam... não para vender, talvez, comprar, mas não tenho dinheiro", diz, rindo. "Estava em uma reunião e disseram 'chegou a € 18,92', a cifra mais alta [até a data da entrevista]. Dá prazer ver que a empresa se valorizou, ainda que critiquem nosso Ebitda...- falo demais!", lamenta...

Cerca de 50% do faturamento está na Ásia. Na grande China (inclui Hong Kong, Taiwan e Macau) já são cerca de 120 pontos de venda. No Japão, entre 70 e 80 lojas e cerca de 20, na Coreia. "Fomos cedo para lá. Meu irmão Leonardo, responsável pela região, me chamou para ver nosso primeiro negócio há 25 anos, em Xangai. Fomos e eu disse: 'a loja é belíssima, mas me mostra uma cliente!' Não havia. As mulheres estavam todas de cinza, em bicicletas. Mas ele tinha razão. Depois vimos no que a China deu."

Foi, porém, a Europa o mercado em que a empresa mais cresceu em 2012, graças também ao turismo de chineses, japoneses e russos. "Brasileiros vão mais a Nova York, e Miami", diz.

A companhia deslancha apesar da crise. Cresceu 17% em 2012, em todos os mercados e linhas de produtos. A receita chegou a 1,153 bilhão de euros. O resultado segue um aumento de 26% registrado em 2010 e 2011.

Na América Latina, ele destaca o México como o país mais importante. A grife está também no Chile, no Peru e na Argentina, além do Brasil, onde chegou nos anos 90.

"O Brasil é um mercado fantástico, mas estamos um pouco amarrados pelas taxas de importação que são altíssimas", afirma.

"Se nossos clientes forem a Miami [comprar], fazem um bom passeio e ainda pagam a passagem." No México, diz, o imposto é razoável, "de 8% ou 15% e os preços lá são os mesmos que temos nos EUA".

"O país deveria abrir as fronteiras, como fizeram outros mercados, ou ter uma taxa de importação menor para sapatos. "O livre comércio de mercadorias é um estímulo para a indústria local para fazer melhor."

"Estamos dormindo", diz sobre a Itália na crise. "Não fazemos o que devemos para sermos mais competitivos. Quase todas as grifes levaram a produção para o exterior." No passado era mais fácil. "Quando o governo via que não éramos competitivos, desvalorizava a lira. Agora temos de enfrentar a questão."


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