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Cifras & Letras

Crítica trabalho

Analítico, livro expõe a face precária do trabalho no país

Transformações do mercado ferem direitos trabalhistas, defendem autores

Hoje, o trabalho contratado e regulamentado está sendo substituído por formas atípicas, precárias e "voluntárias"

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Petroleiros, professores, metalúrgicos, cortadores de cana, camareiras, pequenos agricultores. Ninguém escapa da precarização no trabalho, da insegurança, do medo do desemprego, de jornadas alongadas.

Um amplo painel dessas situações está em "Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil 2".

O livro, organizado pelo sociólogo Ricardo Antunes, com lançamento previsto para maio, reúne 24 artigos. Alguns mais teóricos e outros com relatos contundentes sobre as transformações no mundo do trabalho.

Antunes mostra o desmonte da estrutura de produção fordista -que era mais rígida e hierarquizada, mas embutia direitos trabalhistas conquistados. Hoje, o trabalho contratado e regulamentado está sendo substituído por formas atípicas, precárias e "voluntárias".

Nesse quadro, brotam as falsas cooperativas que dilapidam condições de trabalho e remuneração. É o tempo também da doutrina do empreendedorismo, "que se configura cada vez mais como forma oculta de trabalho assalariado e multiplica as distintas formas de flexibilização de horário, salarial, funcional ou organizativa", escreve o autor.

Em pleno século 21, nota, há jornadas de 17 horas por dia na indústria de confecções no centro de São Paulo. São imigrantes bolivianos ou peruanos que expõem mais uma face da chamada "extração da mais valia".

O mosaico revela muitos exemplos dessa metamorfose no trabalho. No texto sobre a Petrobras, Frederico Romão relata minuciosamente as alterações que ocorreram na estrutura produtiva, especialmente nos anos 1990.

A mudança "aumentou o controle dos tempos de trabalho dos operários, apropriou-se mais efetivamente de seus conhecimentos e enfraqueceu os sindicatos", afirma o autor. Com gráficos e tabelas, ele aponta a redução do número de trabalhadores contratados e o crescimento da terceirização.

Os terceirizados têm menor remuneração e escolaridade mais baixa. São alocados para trabalhos mais desgastantes, nos quais há mais rotatividade. Com eles ocorrem mais acidentes e mortes, aponta Romão, da UFS.

A terceirização também é focada por Lívia Moraes ao analisar as mudanças ocorridas no processo de produção da Embraer após a privatização em 1994. Para a socióloga da Unicamp, "há uma falsa percepção de que os trabalhadores do chão de fábrica têm poder de decisão".

Já Marcos Neli, doutorando em sociologia na Unesp de Araraquara, e Vera Navarro, socióloga da USP de Ribeirão Preto, mergulham na indústria avícola, descrevendo linhas de desossa onde os turnos da madrugada enfrentam frio controlado -no limite para que a empresa não pague adicional de insalubridade.

No texto, uma funcionária do setor de coxas e sobrecoxas conta: "Tem uma cadeira que a gente divide com 20 minutos para cada um. A cada 20 minutos um fica sentado. A maioria do tempo é de pé, pois cansa ficar sentado em cima daquelas cadeiras".

Dores que também aparecem nos depoimentos de camareiras e cortadores de cana. No conjunto, com entrevistas, análises e discussões teóricas, o livro é um rico instrumento para o debate da situação do trabalho no Brasil.

RIQUEZA E MISÉRIA DO TRABALHO NO BRASIL 2
AUTOR Ricardo Antunes (org.)
EDITORA Boitempo Editorial
QUANTO R$ 66 (520 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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