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Saída de premiê leva incerteza ao Líbano
Mikati cita fracasso em reformar leis eleitorais para renunciar; situação política é influenciada pela guerra na Síria
Sucessor no cargo de primeiro-ministro não está definido; seis pessoas morreram em confrontos em Trípoli
Najib Mikati, o primeiro-ministro do Líbano, anunciou ontem, em discurso televisionado, que renunciou ao cargo. O premiê atribuiu sua saída do governo ao atual impasse em relação à reformulação das leis eleitorais vigentes, criticadas por grupos de cristãos libaneses.
No Líbano, os assentos no Parlamento são divididos entre os credos oficiais. Há descompasso, porém, entre a proporção da população e sua representação política, que leva alguns grupos a pedirem pela revisão das leis.
As próximas eleições legislativas libanesas estão programadas, a princípio, para o começo de junho.
Mikati afirmou também, durante seu discurso, que a renúncia está relacionada à recusa do gabinete de ampliar o mandato de Ashraf Rifi, chefe da polícia libanesa, que se aposenta em abril.
O movimento radical xiita Hizbollah, que hoje domina o gabinete no Líbano, recusa a ampliação por ver em Rifi um rival. Tanto Mikati quanto Rifi são sunitas.
O grupo, considerado terrorista pelos EUA, também impede a formação de uma entidade para a supervisão das eleições parlamentares.
Durante o discurso na televisão, Mikati afirmou esperar que sua partida sirva de catalisador para que outros líderes no país assumam suas responsabilidades. Ele pediu a formação de um governo de unidade nacional.
A renúncia de Mikati tem que ser aceita por Michel Suleiman, o presidente do Líbano, para ser oficializada.
À rede Al Arabiya o parlamentar Ahmed Fatfat afirmou que o Líbano entra, com a saída de Mikati, em "um estágio perigoso".
ESCOLHA
Mikati foi escolhido premiê do Líbano em 25 de janeiro de 2011, após a queda do Executivo chefiado por Saad Hariri -filho de Rafiq Hariri, primeiro-ministro assassinado em 2005. Ele teve apoio do Hizbollah durante a formação de seu governo.
O período de sua gestão foi marcado, porém, pelo conflito armado na Síria, do qual seu governo procurou manter-se distante, para evitar que o país se desestabilizasse.
A situação no Líbano é instável, uma vez que há forte desencontro de interesses entre as diversas seitas que compõem esse país árabe.
Os grupos xiitas, por exemplo, se alinham com o regime sírio e também com o Irã. Os sunitas, por sua vez, são contrários a Bashar Assad.
Ontem, homens armados a favor e contra o regime sírio entraram em conflito, na cidade de Trípoli.
Seis pessoas foram mortas e mais de 20 ficaram feridas, de acordo com a agência de notícias oficial libanesa. Esses embates têm se repetido, durante os meses recentes. (Diogo Bercito)