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Análise
Empréstimos são vitais para manutenção do chavismo
FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULOA economia sob Hugo Chávez foi marcada pelo uso indiscriminado de bilhões de dólares vindos da PDVSA, pela gasolina subsidiada mais barata do mundo (R$ 0,02 o litro!) e pela inflação entre as mais altas da América Latina.
O preço crescente do petróleo foi o grande colchão do chavismo nos primeiros anos. Mas, desde a crise financeira mundial, os vultosos empréstimos chineses passaram a fazer parte dessa equação.
Nos últimos sete anos, o Banco de Desenvolvimento da China emprestou a Caracas US$ 46,5 bilhões, segundo a Universidade de Boston. A cifra é maior do que os gastos previstos pelo Brasil para a Copa do Mundo e para a Olimpíada (US$ 27,8 bilhões).
Parte do financiamento envolve a exportação de bens e serviços, como a construção de moradias na Venezuela.
Pequim, por outro lado, não tem demonstrado tanto interesse em fazer investimentos diretos no país, dadas a insegurança jurídica e a instabilidade sociopolítica.
A exceção é justamente o setor petroleiro: a estatal chinesa CNPC se aliou via joint venture à PDVSA para produzir na faixa do Orinoco.
Com os empréstimos, o envio de petróleo à China aumentou muito. Segundo a
PDVSA, o pagamento da dívida comprometeu 359 mil barris diários em 2012, o equivalente a 12% da produção venezuelana. Percentual nada desprezível para um país onde a renda do petróleo equivale a 95% das exportações.
A importância do petróleo venezuelano para a China é também significativa, representando 8,3% das importações, de acordo com a CNPC.
Do ponto de vista chinês, a lógica do negócio é a mesma de empréstimos concedidos a outros países com vastos recursos minerais e baixo capital. Mas o montante para a Venezuela é proporcionalmente maior e dá enorme poder de influência à China.
Dada a dificuldade de Caracas em financiar seu estatismo gigante, a dívida tem potencial para crescer, com conversas em curso para mais US$ 6 bilhões, segundo a imprensa chinesa.
Na campanha do ano passado, foram os empréstimos chineses que permitiram o "sprint" de gastos públicos para reeleger Chávez. Pouco desse fôlego ainda ajuda Maduro, mas a disposição de Pequim em continuar ou não emprestando dinheiro à Venezuela tende a ser cada vez mais vital para o chavismo.