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Africanos e asiáticos seguem o caminho de haitianos no Acre

Imigrantes de países como Senegal e Bangladesh entram ilegalmente no Brasil atrás de trabalho

Pessoas superlotam os abrigos públicos na região e esperam em condições insalubres por uma oportunidade

REYNALDO TUROLLO JR. ENVIADO ESPECIAL A BRASILEIA (AC)

A uma ponte da Bolívia, os moradores de Brasileia (AC), habituados à vida na fronteira, vivem dias inquietos com a chegada de uma multidão de imigrantes que se espremem em um abrigo estadual.

Nessa onda de imigração há sobretudo haitianos, mas agora também senegaleses, nigerianos, dominicanos e até um bengali (de Bangladesh), todos em busca de um trabalho que os tire dali.

Meses atrás, eram só haitianos. A alta de outras nacionalidades é sinal de que a rota ilegal entre o Equador e o Acre, desbravada originalmente por haitianos após o terremoto de 2010, se tornou mundialmente conhecida.

Pilhas de lixo de um metro de altura, mau cheiro de banheiros e o temor de epidemias fizeram o governo acriano decretar neste mês estado de emergência social na cidade. Na prática, foi um grito de socorro ao governo federal.

Uma força-tarefa federal aterrissou na cidade disposta a legalizar todos os imigrantes. Em quatro dias, identificou 1.126 estrangeiros, regularizou 1.106 e emitiu 941 carteiras de trabalho.

Natural de Thies, no Senegal, o sapateiro Chiekhou Thiam, 34, foi um dos beneficiados. "Havia várias opções de países, mas escolhi aqui porque o povo brasileiro tem bom coração", disse.

Thiam é porta-voz de um grupo de 75 senegaleses que idealizam o Brasil como terra acolhedora e repleta de oportunidades. Viajou 11,9 mil km pelo ar e 3.340 km por terra, incentivado pelo irmão, que vive no Sul --não quis precisar onde. Quer mandar dinheiro à irmã, que ficou.

Os regularizados recebem da força-tarefa uma fitinha verde, que amarram no braço. No pescoço, penduram cópia plastificada do CPF.

"Outro país não faria isso. Para o mundo, o Brasil é quase uma potência", disse o cozinheiro dominicano Juan Ribas, 24, no Acre há um mês com a mulher, grávida.

Os haitianos ganham o direito de residir no Brasil quase automaticamente com o chamado visto humanitário, mas cidadãos de outras nacionalidades ainda poderão ter de deixar o país caso não provem ser alvo de perseguição em suas terra natal --condição para obter o refúgio.

Acreditava-se que a chegada da força-tarefa e a emissão de documentos esvaziariam o abrigo, já que a regularização permite aos imigrantes viajar em busca de emprego.

Os estrangeiros lotaram o escritório da Polícia Federal em Epitaciolândia, vizinha a Brasileia, e movimentaram as lojas de fotocópias da cidade para agilizar papéis.

Foi em vão. Com CPF no pescoço e carteira de trabalho no bolso, uma pequena parte conseguiu deixar o interior do Acre por conta própria, mas a maioria continua à espera de empresas que cheguem para recrutar mão de obra e bancar a viagem.

De 10 a 16 de abril, cinco representantes de empresas foram a Brasileia buscar 137 trabalhadores. Os que ficaram começam a se mostrar impacientes e desanimados.

E os que conseguem sair são logo repostos. Diariamente, das 7h às 10h, táxis deixam no abrigo novos imigrantes --quase todos passaram por Guayaquil (Equador) e Puerto Maldonado (Peru).

A expectativa do governo é que o fluxo continue intenso. Na última quarta, o abrigo começou a receber melhorias como banheiros, que eram químicos, e tablados de madeira sob os colchões, para evitar que os imigrantes continuem a dormir sobre a urina que escorre no chão.


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