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Boris, o terrível

Prefeito de Londres ganha popularidade com estilo sem pompa e vira alternativa para governar o país

BERNARDO MELLO FRANCO DE LONDRES

Nas últimas semanas, o prefeito de Londres, Boris Johnson, apareceu no noticiário em situações inimagináveis para outros políticos do Reino Unido.

Numa tarde de quinta-feira em que o primeiro-ministro David Cameron discursou em tom grave sobre a Coreia do Norte, ele usou o Twitter para marcar um desafio de pingue-pongue com Pippa Middleton, a cunhada insinuante do príncipe William.

Na segunda seguinte, trocou o gabinete por uma quadra de basquete montada em frente à prefeitura. A pretexto de promover um torneio na cidade, posou com um ídolo local e arriscou um arremesso de costas. A bola entrou de primeira, e o vídeo virou hit instantâneo no YouTube.

Horas depois, a primeira-ministra Margaret Thatcher morreu. O prefeito voltou ao Twitter e escreveu que ela ainda será lembrada quando os políticos de hoje e seus ternos cinzas tiverem sido esquecidos. Mais que uma homenagem, foi um gancho para repetir sua mensagem preferida: a de que ele, Boris, é diferente dos rivais.

Carismático, com jeito de comediante e disposto a qualquer risco para aparecer, o prefeito ganhou projeção nacional e virou uma sombra incômoda a Cameron, seu colega no Partido Conservador.

Aos 48 anos, ele passou a ser visto como a maior aposta para recuperar a popularidade da legenda, abatida com a rejeição ao premiê e o favoritismo dos trabalhistas para as eleições de 2015.

A onda Boris só faz crescer desde o ano passado, quando ele se reelegeu e levou os méritos pelo sucesso da Olimpíada de Londres. Em março deste ano, o prefeito foi tema de documentário da BBC e admitiu, pela primeira vez, que sonha em governar o país.

O prefeito começou a carreira como repórter político, mas ganhou fama como participante da bancada do "Have I Got News for You", uma espécie de "CQC" britânico.

A TV o transformou em celebridade e ajudou a burilar o estilo que viraria arma eleitoral: roupas amarrotadas, cabelo amarelo-ovo intencionalmente despenteado e discursos recheados de piadas.

É uma receita oposta à de Cameron, que cultiva o visual almofadinha e nunca se distancia do protocolo oficial.

Aliados do premiê sugerem que Boris é bom de palanque, mas não passa a seriedade necessária para um voo mais alto. As pesquisas, no entanto, mostram que ele seria mais competitivo que o aliado numa eleição nacional.

"As pessoas estão cansadas de ver políticos fazendo papel de políticos, e Boris dá a impressão de agir diferente, de ser espontâneo", disse à Folha o presidente do instituto de pesquisas YouGov, Stephen Shakespeare.

Na Olimpíada, o prefeito explorou cada chance para se projetar. Espalhou sua voz nos alto-falantes do metrô e ofuscou Cameron em aparições conjuntas com atletas.

Numa das cenas mais lembradas pelos londrinos, ele saltou de uma tirolesa para comemorar o primeiro ouro britânico, perdeu velocidade e ficou pendurado a cerca de seis metros do chão.

As imagens do prefeito suspenso no ar, se debatendo e gritando por uma corda correram o país. Em vez de desgastar sua imagem, serviram para torná-lo ainda mais pop.

"Se qualquer outro político no mundo ficasse preso numa tirolesa, seria um desastre. Para Boris, é um triunfo absoluto...", comentou Cameron, conformado.

Críticos acusam o prefeito de exagerar na dose de autopromoção, às vezes com gastos exagerados.

A promessa de lançar uma versão high-tech dos famosos ônibus Routemaster, aposentados por motivos de segurança, fez a cidade pagar R$ 4 milhões por veículo --um preço seis vezes maior que o do modelo anterior.

Por outro lado, ele capitalizou tão bem o programa de incentivo ao ciclismo que as bicicletas alugadas nas ruas de Londres, com patrocínio de um banco, ganharam o apelido de Boris Bikes.

O prefeito tem mandato até 2016, mas se mantém em ritmo de campanha permanente e investe no corpo a corpo pelas redes sociais. Depois de amanhã, ele voltará a suspender a agenda oficial para um bate-papo com eleitores.

A conversa será pelo Twitter, é claro.


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