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Obras em Buenos Aires provocam polêmica

Mexida em pontos simbólicos como avenida 9 de Julho, Palermo e Recoleta desagradam saudosistas e mobilizam ONGs

Iniciado em 2003, boom imobiliário transforma a capital; especialistas defendem modernizar preservando o passado

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

O turista que chega a Buenos Aires vindo do aeroporto de Ezeiza e adentra a cidade por meio da avenida 9 de Julho, principal e mais grandiosa artéria da cidade, certamente levará um susto.

Se for um dia de semana, o susto será provocado pelo trânsito inusual dos últimos meses. Se for sábado ou domingo, pela simples transformação visual desse tradicional cartão-postal da cidade.

Desde o início do ano, as laterais da avenida estão em obras para a construção de um imenso e polêmico corredor de ônibus - entre outras coisas, foram retiradas dali as árvores plantadas nos anos 80 pelo presidente Raúl Alfonsín, para celebrar a volta do país à democracia.

A retirada das árvores causou intenso debate, indignando setores da sociedade.

O mesmo já havia acontecido, no ano anterior, com as plantas do elegante bairro da Recoleta quando se anunciou a construção de um metrô na saída do Shopping Design.

Na época, a Justiça obrigou o governo da cidade a mudar a estação de local e replantar as árvores retiradas.

AÇÃO DAS ONGS

Há várias ONGs que vêm comprando a briga pela preservação de paisagens e construções históricas numa cidade em transformação.

Desde 2003, quando o país se recuperou da grande crise de 2001, um intenso boom imobiliário começou a transformar paisagens, ao mesmo tempo em que o aumento da população urbana criou a necessidade de novas alternativas para fazer fluir o trânsito.

A mais importante dessas ONGs chama-se Basta de Demoler ("chega de demolir").

Conta com uma equipe de 20 pessoas e um histórico de algumas vitórias: "Impedimos a derrubada de dois edifícios históricos na Recoleta e a transformação da calle Defensa, em Santelmo, em rua de pedestre. Estamos na luta pelas árvores", diz Santiago Pusso, líder do grupo.

Uma das derrotas mais sentidas, porém, foi a retirada dos pictóricos vagões de trem da linha A, alguns em uso desde os anos 20 e agora substituídos por modernos e rápidos trens chineses.

Os vagões históricos estão apodrecendo ao ar livre num depósito da prefeitura. Enquanto isso, os equipamentos de direção e freio dos veículos foram encontrados à venda no site Mercado Libre.

As ONGs se posicionam ainda contra a derrubada de casas típicas de Palermo, que estão dando lugar a torres de moradias, o fechamento de cafés tradicionais e a construção desenfreada de prédios com alturas acima do estipulado pela lei -como ocorre no antes pacato bairro de Caballito, hoje sendo ocupado por prédios de escritórios.

Sua voz, porém, não é unânime. Há também os que defendem uma modernização da legislação e da cidade, pagando-se o custo de perder algo do patrimônio histórico.

"É evidente que é preciso preservar, mas ao mesmo tempo deveria haver um estímulo ao debate sobre as soluções de problemas urbanísticos importantes, como os transportes", diz o arquiteto Berardo Dujovne, que projetou, entre outras coisas, os diques de Puerto Madero transformados em boulevard com restaurantes e comércio.

"Não se pode, por exemplo, obrigar um café a funcionar por decreto", completa.

'CAFÉ FANTASMA'

Os cafés mobilizam grande atenção, por serem um destino turístico em potencial, evocando tempos gloriosos da cidade, em princípios do século 20. A prefeitura da cidade elegeu 60 para serem protegidos como "bares notáveis". Só que essa distinção não significa ajuda financeira para que sejam mantidos.

"A localização deles, mais central, significa imposto alto, que o negócio não sustenta. Às vezes é melhor vender para uma grande marca", afirma Pusso. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a tradicional Confitería Richmond, vendida para ser transformada em loja da Nike.

Outros, falidos, não conseguem voltar a abrir suas portas, como é o caso da Los Molinos, perto do Congresso, que do lado de fora parece uma casa fantasma. O governo da cidade propôs expropriar o local e tentar torná-lo viável economicamente, mas não apresentou um projeto.

"Temos muito a aprender com Bogotá, Santiago e Cidade do México, para ficar em exemplos latino-americanos. São cidades que crescem, mas discutem soluções urbanísticas enquanto preservam seu passado", avalia Pusso.


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