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10 anos de kirchnerismo

Posse de Néstor Kirchner na Argentina completa uma década hoje; oposição vê país polarizado, enquanto governistas apontam avanço nos direitos humanos

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

Um estrangeiro desavisado que estiver passando pela Argentina nas últimas semanas terá a impressão de que Néstor Kirchner (1950-2010) não apenas não morreu como ainda é o presidente do país. Por boas e más razões, o ex-mandatário não sai das manchetes dos jornais, do noticiário, dos lambe-lambes nas ruas e da boca do povo.

As más razões têm a ver com as denúncias de envolvimento num megaesquema de lavagem de dinheiro que teria tirado ilegalmente do país mais de € 55 milhões.

Uma amostra das boas razões é o modo como Néstor foi lembrado ao tirar a foto do ditador Jorge Videla, morto na semana passada, da parede do Colégio Militar e levá-lo novamente a julgamento.

A política de direitos humanos, com mais de 700 julgamentos de repressores dos anos 70 e pelo menos 200 condenações, é o principal orgulho da era kirchnerista.

Hoje completam-se dez anos do dia em que o até então desconhecido governador da distante e gelada província de Santa Cruz chegou à Presidência da República com famélicos 22,4% dos votos, depois que o ex-presidente Carlos Saúl Menem resolveu retirar-se da disputa.

A Argentina, sem dúvida, é outro país. A oposição vê uma crise institucional, uma nação polarizada e reforça a gravidade da crise econômica, com inflação de quase 30% ao ano, o país fechado ao investimento externo e o dólar paralelo nas alturas.

Já os kirchneristas veem um país que se recuperou de uma grave crise (2001), atingindo níveis recordes de crescimento e, com isso, tornando-se mais igualitário, com mais direitos civis aprovados e direitos humanos respeitados --além de maior acesso dos pobres a planos sociais, como a Assignación Universal por Hijo (o bolsa-família argentino). Falam em "década ganha", expressão que será título de um livro oficial sobre a história kirchnerista.

CRISTINISMO

Durante a última semana, enquanto a cidade se enchia de cartazes convocando para uma manifestação governista na praça de Maio hoje --com uma foto do casal Kirchner abraçado em meio a uma chuva de papéis picados--, os jornais e comentaristas ligados à oposição passaram todo o tempo apontando os problemas crônicos da Argentina nesta década.

O kirchnerismo conheceu dois tipos de liderança. A de Néstor, mais autoritária e mais permissiva com a corrupção, e a de Cristina, em que predomina o discurso ideológico e nacionalista mais marcado.

Há quem fale também de "cristinismo", uma vertente nascida de dentro do kirchnerismo e que estaria marcada pela troca da base de apoio do governo. Enquanto Néstor fazia uso das velhas alianças peronistas com sindicatos de trabalhadores, Cristina preferiu privilegiar os movimentos juvenis.

Hoje, a organização La Cámpora, chefiada por seu filho, Máximo, é mais importante que qualquer outro partido político do país, com dirigentes nas principais estatais argentinas, ministérios, Congresso e órgãos públicos, como a Anses (previdência).

ELEIÇÃO DE OUTUBRO

Quando assumiu, Néstor dizia a seus apoiadores que pensava num projeto político de até 20 anos. Seu plano era governar, ser substituído por Cristina por um ou dois mandatos e depois voltar. A morte acabou levando-o mais cedo. Agora, sua mulher dá sinais de que tentará mudar a Constituição para disputar um terceiro mandato em 2015.

No entanto, Cristina enfrenta uma grave crise de popularidade. Mais de um ano depois de reeleita com 54% dos votos, a presidente tem hoje magros 36% de aprovação, devido aos resultados de sua política econômica e a algumas tragédias, como o acidente de trem do Once, que deixou 51 mortos em 2012, e a inundação de La Plata.

A eleição legislativa que ocorre em outubro pode marcar o renascer ou o ocaso desse fenômeno político.

Se o kirchnerismo mantiver ou ampliar sua maioria no Congresso, certamente terá forças para permanecer mais um mandato. Se perder, dará espaço para a reestruturação da oposição.


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