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Turcos se mobilizam contra chefes da polícia
Manifestantes pedem demissão e fim do uso de gás lacrimogêneo
De madrugada, houve confronto entre forças de segurança e opositores do premiê Recep Erdogan
Há cinco dias, Sedat Aydin, 33, deixou de ir à fábrica em que trabalha e trocou sua casa por uma barraca perto da praça Taksim, em Istambul. Diz que só sai quando "tudo for resolvido", mesmo que signifique perder o emprego.
Ontem, líderes da onda de protestos na Turquia iniciaram negociações com o governo que podem "resolver" a questão de Aydin e desmobilizar centenas de pessoas que, como ele, participam dos protestos no país há cerca de uma semana.
Em reunião com o vice-premiê do país, Bülent Arinç, o grupo pediu a demissão de chefes de polícia das cidades onde houve violência contra manifestantes.
A lista de reivindicações entregue a Arinç um dia após seu pedido de desculpas pela repressão policial inclui também a soltura de manifestantes presos e o fim do uso de gás lacrimogêneo.
O vice-premiê ainda não falou sobre os pedidos.
As manifestações em Istambul tinham como alvo, no início, o plano de derrubar árvores de um parque para dar lugar a um shopping (leia texto ao lado).
A repressão policial fez os protestos se voltarem contra o primeiro-ministro islâmico Recep Tayyip Erdogan e se espalharem pelo país.
Duas pessoas morreram e mais de 3.000 ficaram feridas. Anteontem, segundo a agência de notícias do governo, a polícia turca também prendeu 25 pessoas em Esmirna acusadas de incentivar protestos pelas redes sociais.
Ontem, os manifestantes ganharam a adesão de centrais sindicais, que declararam greve de dois dias. "Nós viemos mostrar que também somos contra o autoritarismo do governo", disse a farmacêutica Ferda Firncl, 23.
Na praça, máscaras e óculos de natação para se proteger contra o gás lacrimogêneo viraram uniformes. Os itens são vendidos já nos primeiros degraus da escada da saída do metrô que leva à Taksim. Máscaras custam 3 liras turcas (R$ 3,30); óculos, 5.
Houve confronto entre policiais e manifestantes na madrugada, mas durante o dia a polícia deixou o local.
No parque ao lado, onde ficam as barracas dos manifestantes, o clima é mais ameno. Grupos se organizaram para separar e entregar doações de roupas, cobertores, comida e remédios aos participantes.
Até um "gato" de energia foi feito em uma árvore para que os manifestantes carreguem seus celulares.
Em hotéis e restaurantes, os turistas são aconselhados a não ir à região.
"Eu nem sei onde é esse conflito, nós nem passamos perto", disse a empresária Ana Flávia Ribeiro, 40. "Tivemos medo mesmo foi de o nosso balão cair na Capadócia", completou a contadora Deborah Franco,49, em referência ao acidente que matou três brasileiras mês passado.