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China dá troco aos EUA na América Latina

Para analistas, presidente chinês fez questão de visitar aliados americanos em resposta à interferência na Ásia

Gigante asiático se transformou no maior destino de exportações de países como o Brasil, o Chile e o Peru

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

O novo presidente da China, Xi Jinping, teve uma recepção grandiosa em sua primeira visita à América Latina. Oito chefes de Estado do Caribe voaram até Trinidad e Tobago para se encontrar com o mandatário, que prometeu US$ 3 bilhões em financiamento a obras públicas.

Menos de uma semana antes, quem esteve por lá foi o vice-presidente americano, Joe Biden. A conversa foi outra. A primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar reclamou dos subsídios agrícolas às Ilhas Virgens e a Porto Rico, de barreiras comerciais e até disse que muita gente na região acha que não recebe "atenção" dos EUA, como vazou para a imprensa local.

Em vez de oferecer empréstimos como os chineses, Biden até pediu aos brasileiros para investirem nos EUA, em discurso no porto do Rio.

Xi ainda visitou Costa Rica e México, dois aliados americanos, antes de se encontrar com Obama anteontem.

Deixou de fora do roteiro o maior parceiro comercial da China, o Brasil, e países com suposta afinidade ideológica, como Cuba.

Para vários analistas, Xi fez questão de visitar aliados americanos na zona de influência da superpotência (que o novo secretário de Estado, John Kerry, chamou de "quintal" dos EUA), como troco pela maior interferência americana no Sudeste Asiático, especialmente em Mianmar, que era aliado incondicional chinês antes da recente abertura política.

Também há a percepção que as últimas visitas de Obama e Biden à região seriam uma espécie de contraofensiva à crescente presença chinesa na América Latina.

SEM ESTRATÉGIA

A China virou o maior destino de exportações do Brasil, Chile e Peru e já é o segundo maior da maioria dos países da região, com exceção do México. "Os EUA estão quebrados, então não dá para competir com a China em distribuição de empréstimos e obras públicas", disse à Folha o professor Evan Ellis, da Universidade da Defesa Nacional, de Washington.

Para ele, o governo americano precisa se aliar ao empresariado do país para ter uma estratégia --"que ainda não existe"-- para a região.

"A China não é uma ameaça à segurança, nem vivemos uma nova Guerra Fria. Ela quer acesso a matéria-prima e mercado para seus produtos. Ela, sim, tem estratégia para a América Latina", diz.

Os americanos dão sinais de maior engajamento com a região. Obama visitou México e Costa Rica pouco antes da viagem de Biden. Convidou a presidente Dilma Rousseff para o que será a única visita de Estado no que resta do ano em Washington.

O presidente americano acaba de receber o presidente do Chile, Sebastian Piñera, e de prometer aos chilenos que eles poderão viajar ao país sem visto. Mas, ao contrário dos chineses, Obama coleciona desafetos na região --além de não reconhecer a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela, até mesmo a Argentina ficou de fora dos roteiros pela América Latina.

O único percalço do chinês e de sua comitiva de 280 pessoas pela região foi a pressão diplomática, revelada pela imprensa, para que as bailarinas do carnaval de Trinidad estivessem muito vestidas e não se aproximassem muito de Xi. Os locais reclamaram.

A disputa das duas potências deve continuar e nem sempre será fácil para a América Latina lidar com os dois gigantes. "Os EUA fazem um trabalho notoriamente pobre em premiar seus aliados, e a China promete muito mais investimento de que fato investe", diz Ellis.


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