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Estátuas na praça

Depois de repressão da polícia, protestos silenciosos ganham força na Turquia

LUCIANA DYNIEWICZ EM ISTAMBUL

O clima mudou na praça Taksim, em Istambul. Dos gritos em coro e da repressão policial para a ausência de ruídos quase completa, interrompida em poucos momentos por salvas de palmas.

De pé, em silêncio, centenas de turcos imitavam ontem o coreógrafo Erdem Günduz, que iniciou a nova modalidade de "resistência silenciosa" no dia anterior.

Quem fala um pouco mais alto é advertido: "É um protesto silencioso". Alguns nem respondem a perguntas.

Günduz chegou à praça às 18h de anteontem, horas após a polícia desalojar mais uma vez manifestantes na praça símbolo dos protestos.

Ficou parado por oito horas, em silêncio, em frente a um retrato gigante de Mustafa Kemal Atatürk, fundador da Turquia moderna --uma metáfora do conflito entre uma classe média urbana e ocidentalizada e o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, acusado de impor agenda autoritária e islâmica.

O centro cultural que leva o nome de Atatürk pode desaparecer se levado adiante o projeto de construir um shopping na região. O projeto foi o estopim inicial dos protestos há três semanas.

Günduz não foi incomodado pela polícia. Foi seguido por 300 pessoas e as imagens ganharam TVs e redes sociais.

Virou "o homem de pé".

O primeiro grupo que o seguiu foi dispersado pela polícia. Dez foram presos por se recusarem a sair. O ato inspirou outros, anteontem, em Istambul e em outras cidades.

CONEXÃO SP E FREIRE

Ontem, centenas fizeram como o "homem de pé" na praça. Ao menos três passaram mal pelo cansaço.

Um que desmaiou duas vezes por volta das 23h foi atendido por um médico voluntário. Dezenas fizeram, então, um círculo de mãos dadas ao seu redor para impedir que cinegrafistas se aproximassem --o temor era que o médico, funcionário estatal, seja exonerado se descoberto.

Quando o ativista se levantou, foi aplaudido pelos que estavam na praça.

Grande parte das pessoas está lendo. "Pedagogia do Oprimido", do brasileiro Paulo Freire, estava nas mãos do turco Cem Emre Gutay, que trabalha com comércio exterior. Gutay diz que não quer que o governo "se intrometa" em sua vida. "Não se pode mais comprar álcool após as 22h. Erdogan quer converter a Turquia em um lugar onde as pessoas dizem sempre sim' e chama de democracia".

A estudante Eylül Görmüs diz que o governo quer "falar até como e quando você pode fazer sexo". Ela pergunta se o movimento da Turquia influenciou o do Brasil e afirma que os brasileiros têm "mais sorte", pois "soube que a presidente Dilma falou que as manifestações reforçam a democracia".

À diferença do primeiro dia, o governo prometeu não intervir na praça. A polícia continua em Taksim, mas menos armada. Carros blindados similares ao "caveirão", do Bope, se enfileiram.

O protesto foi comentado por Erdogan, que acusou emissoras ocidentais de exibi-lo para "conspirar": "Eles viram vários solitários na praça Taksim, mas não os milhões [do seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP)]. O jogo foi derrotado. O povo e seu partido o derrotaram".


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