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Receber delator terá efeito 'grave' para Equador, dizem EUA
Correa diz que 'dignidade não tem preço' e renuncia a programa de ajuda a Quito que expira no fim de julho
Obama tenta minimizar caso Snowden e diz que não vai 'mandar decolar jatos para capturar um hacker de 29 anos'
Os EUA sinalizaram ontem a intenção de evitar que o caso de Edward Snowden afete as relações com Rússia e China, mas deixaram claro que estão dispostos a impor represálias ao Equador se o país der asilo ao ex-técnico da CIA que revelou um programa de espionagem do governo.
Segundo o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Patrick Ventrell, haverá "graves dificuldades" nas relações entre Quito e Washington caso o presidente equatoriano, Rafael Correa, resolva receber Snowden.
Em direção oposta, o presidente dos EUA, Barack Obama, tentou minimizar o caso.
Após duras declarações da diplomacia americana contra a China --acusada de facilitar a saída de Snowden de Hong Kong-- e contra a Rússia --onde o delator estaria--, Obama disse que o episódio não atrapalharia os "muitos negócios" de Washington com Moscou e Pequim.
Diante da pergunta sobre usar aviões militares para interceptar um voo que saísse da Rússia com Snowden, Obama respondeu: "Não vou mandar decolar jatos para capturar um hacker de 29 anos". Snowden, na verdade, fez 30 na semana passada.
Acredita-se que o ex-agente permaneça na área de trânsito do aeroporto Sheremetyevo, em Moscou.
RESPOSTA DE QUITO
Mais cedo, o presidente Correa havia se antecipado à pressão. Declarou abrir mão do programa que permite ao Equador exportar produtos com tarifa zero ao mercado americano ante a ameaça dos EUA de não renová-lo por causa do caso Snowden.
"Nossa dignidade não tem preço", afirmou Correa. Em tom de provocação, um porta-voz do governo equatoriano ofereceu US$ 23 milhões aos EUA para "treinamento" em direitos humanos --Washington criticou Quito recentemente nessa área.
As declarações do esquerdista têm valor tático --ajudam Correa a se posicionar como voz destemida na região ante os EUA--, mas ele diz renunciar ao que provavelmente já perderia.
O programa de exportação facilitada aos EUA de itens como alcachofras e flores expira em 31 de julho e teria de ser renovado pelo Congresso americano, o que já era tido como improvável pela resistência de parlamentares ao anti-imperialismo de Correa.
A renúncia provocou críticas de empresários equatorianos --os EUA absorvem 35% das exportações do país.
O caso Snowden tampouco é algo confortável para Quito. O governo Correa estaria irritado com o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, hóspede da embaixada equatoriana em Londres.
Assange, que presta auxílio a Snowden, anunciou publicamente que o americano tinha um documento de refugiado concedido por Quito.
Ontem, o governo equatoriano disse que o documento não é válido. Correa disse que só poderá analisar o pedido de asilo a Snowden se ele estiver em território equatoriano, seja no país ou em alguma embaixada pelo mundo.