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Presidente egípcio desafia ultimato militar e diz que fica
Mursi admite erros, mas se vê 'guardião da legitimidade'; prazo do Exército para resolver impasse termina hoje
Dia foi tenso nas ruas do país, com confronto entre polícia e ativistas pró-Mursi; ao menos 16 pessoas morreram
Na véspera do prazo dado pelo Exército do Egito para o governo apaziguar as revoltas que voltaram a tomar as ruas, o país viveu um dia tenso, com confrontos entre opositores e simpatizantes do presidente islamita Mohammed Mursi.
No fim da noite, ele discursou em rede nacional para dizer que não deixará o cargo.
Por cerca de 45 minutos, Mursi afirmou estar aberto ao diálogo com a oposição e reconheceu que cometeu "erros", mas chamou a si de "guardião da legitimidade".
"Se o preço de preservar a legitimidade é meu sangue, estou preparado para o sacrifício", afirmou.
Por telefone, o presidente americano, Barack Obama, disse a Mursi que "todas as vozes do Egito têm de ser ouvidas". Desde domingo, milhões nas ruas pedem a saída do presidente --eleito há um ano, após o ex-ditador Hosni Mubarak ser destronado pela Primavera Árabe.
Ontem, confrontos entre simpatizantes do governo e a polícia perto da Universidade do Cairo deixaram ao menos 16 mortos e mais de 200 feridos, segundo o Ministério da Saúde. Houve conflito também em Alexandria.
Não está claro que tipo de intervenção pode ser levada a cabo pelas Forças Armadas. O ultimato termina oficialmente às 17h (às 12h, no horário de Brasília).
Embora os militares tenham negado a hipótese de dar um golpe, haveria um plano de suspender a Constituição e dissolver o Parlamento, dominado por islamitas. Um conselho provisório seria formado por civis vindos de diferentes setores.
"As pessoas elegeram Mursi. Agora, queremos tirá-lo do poder", diz à Folha Lamia Samy, durante uma manifestação, abafada pelos sons dos fogos de artifício. "Nós o contratamos e, se quisermos, podemos demiti-lo."
Os apoiadores de Mursi, por sua vez, pedem que ele possa concluir seu mandato e apontam que a solução democrática para o impasse é demonstrar a insatisfação nas próximas eleições.
"A opinião das pessoas está nas urnas, e não nas ruas", diz o imã Alef al-Shaar, 39. "Daremos a vida por Mursi."
RENÚNCIAS
Com a disposição de Mursi de ficar no poder, o governo adotaria seu próprio projeto de reconciliação com a oposição. O governo, porém, está desacreditado pelas perdas no gabinete.
Ontem, o chanceler Mohamed Kamel Amr renunciou, somando-se a outros cinco ministros que haviam deixado suas pastas nesta semana.
Nas ruas, os manifestantes recebiam com histeria o apoio dado pelo Exército e comemoravam a cada passagem de um helicóptero militar sobre a praça Tahrir.