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Entrevista Saeb Erekat

É normal o ceticismo quanto à paz

Negociador-chefe palestino diz que, em 20 anos, diálogo favoreceu o extremismo

Ele afirma, no entanto, que vale a pena a nova tentativa de negociar com Israel, iniciada nesta semana nos EUA

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

"Os povos passaram por diferentes processos, e hoje o mundo árabe está passando pela sua própria transição democrática. Quem diz que os árabes não estão prontos para a democracia é racistaNosso time de negociadores nasceu para trazer a Palestina de volta ao mapa-múndi. É isso o que me mantém ativo

Não é de surpreender que as pessoas ao redor do mundo estejam céticas a respeito do processo de paz, diz o negociador-chefe palestino Saeb Erekat à Folha.

Afinal, duas décadas de negociações, desde os Acordos de Oslo, "trouxeram mais colonos, mais assentamentos e mais extremistas".

Erekat irá liderar as conversas com autoridades israelenses durante os nove meses de processo de paz. "Não quero que meus filhos passem pelo que estou passando. Queremos ser como qualquer outro povo no mundo", diz ele.

O negociador-chefe sabe, porém, que o caminho na direção da paz irá envolver difíceis decisões de ambas as partes --o que, para os palestinos, inclui um referendo estipulado com o Hamas, grupo palestino que controla a faixa de Gaza, para aprovar qualquer acordo.

Os palestinos esperam poder contar, durante esse período, com a ajuda do Brasil.

"Reconhecer o Estado palestino foi um investimento brasileiro na paz", afirma.

Folha - O que o sr. diria àqueles que estão céticos a respeito do processo de paz?
Saeb Erekat - As pessoas têm o direito de estar céticas, porque 20 anos de negociação trouxeram mais colonos, mais assentamentos e mais extremistas. No entanto, diria a elas que não há nada de errado em negociar.
O problema é a abordagem. Se algumas partes acreditam que a negociação tem de garantir a impunidade israelense, então essas conversas não vão trazer nenhum resultado positivo. Negociações devem vir como um acordo em comum, um interesse em comum, que seja encerrar a ocupação israelense e restabelecer os direitos de todos os envolvidos.
Esse é nosso mandato na mesa de negociações. Com uma abordagem sincera que garanta a aplicabilidade da lei internacional e os acordos firmados, as negociações vão ter sucesso.

Por que a paz é necessária?
Não quero que meus filhos passem pelo que estou passando. Tenho cinco netos que amo e quero dar a eles um país livre onde possam viver. Queremos ser como qualquer outro povo no mundo, livre e digno em nosso país.

O que o sr. pensa dos que dizem que os árabes não estão prontos para a paz e para a democracia?
Todos os povos passaram por diferentes processos, e hoje o mundo árabe está passando pela sua própria transição democrática. Quem diz que os árabes não estão prontos para a democracia é racista.

Quais serão os desafios para os próximos meses?
Em primeiro lugar, o fato de que temos de tomar decisões. Algumas pessoas vão ter de dizer "sim" ou "não" para a ocupação e, dependendo dessa resposta, nós estaremos aptos a firmar a paz.

Qual é a importância do apoio da Liga Árabe ao processo?
É decisivo. Somos um único bloco quando o assunto é Palestina. A iniciativa árabe para a paz é nossa fórmula para o acordo com Israel.

Como um país como o Brasil pode ajudar a instaurar a paz no Oriente Médio?
Reconhecer o Estado palestino e apoiar nossa admissão na ONU foi um investimento brasileiro na paz. Seu país continuará a exportar paz justa porque vocês entendem a importância de acabar com a ocupação israelense. Esperamos mais ações do Mercosul para seguir a decisão da União Europeia em declarar claras diretrizes para lidar com produtos e instituições vindos de assentamentos. Somos gratos ao Brasil.

Como o Hamas será convencido de se unir ao processo?
O Hamas concordou que qualquer acordo será colocado para votação em um referendo nacional, onde esperamos que os palestinos no Brasil estejam aptos a votar. Se conseguirmos trazer um acordo para referendo, será aprovado. Nunca submeteríamos para o voto nada que fosse menos do que o garantido pela legislação internacional para nosso povo.

Como o sr. se sente pessoalmente, ao participar das negociações de paz?
Creio que as pessoas nascem para uma missão em especial. Nosso time de negociadores nasceu para trazer a Palestina de volta ao mapa-múndi. É isso que me mantém ativo mesmo nos momentos de desespero. Vi colegas e amigos sendo mortos e presos. Vi famílias pobres vindo ao meu escritório pedir água. Isso tem de acabar.


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