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Para delator, elo de empresas e governo dos EUA é 'incestuoso'

William Binney, ex-analista da Agência de Segurança Nacional, diz à Folha que não há supervisão oficial

Ele trabalhou durante 30 anos na agência e saiu após denunciar seus excessos, na década passada

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

Depois de 30 anos como um dos principais matemáticos da Agência de Segurança Nacional (a NSA da sigla em inglês), William Binney, 69, passou a última década denunciando os excessos dos programas de espionagem americanos.

Ele testemunhou em comissões da Câmara e do Senado americanos e falou várias vezes com a imprensa --mas só sentiu que suas acusações foram comprovadas a partir das denúncias do ex-agente de inteligência Edward Snowden.

"Tentei os canais corretos para denunciar, me aposentei e nem me deixaram abrir um negócio. Pago pelas minhas acusações", disse em entrevista à Folha. A seguir, trechos da conversa.

Snowden e Manning
Snowden e Manning são casos diferentes. Bradley Manning não selecionou o material que encontrou, apenas o despejou, sem filtro. Nem ele sabia o que tinha naqueles 700 mil documentos. Ele devia estar perturbado com o que via, mas foi apenas indisciplinado e irresponsável. Seria serviço público se ele selecionasse o que viu sobre assassinatos ou torturas e divulgar.

Cadê os culpados?
Mas o que mudou mesmo foi a prestação de contas do Pentágono. Quando o tenente William Calley foi denunciado por ordenar o massacre de My Lay, no Vietnã, ele foi julgado e condenado. Desta vez, o que aconteceu com as denúncias de Manning? Cadê os culpados? O que fizemos no Iraque era política americana ou de criminosos de guerra. O que o resto do mundo vai pensar?

Grande negócio
A vigilância da rede é um grande negócio, de US$ 80 bilhões, 70% para fornecedores terceirizados. Essas empresas contratadas não vão querer que o sistema seja reduzido ou desmantelado, é um enorme negócio. Estão construindo na base militar de Fort Mead, Maryland, mais uma central de 65 mil metros quadrados com servidores para armazenar dados.

Brasil sem proteção
Se o Brasil quiser se proteger, vai ter que criar sua própria rede doméstica. Nunca estará totalmente a salvo, pois as conexões internacionais já estão totalmente cobertas. Rússia e China, por exemplo, têm várias redes locais, mas não têm como proteger as internacionais.

Sonho da Stasi
Vivemos com um governo que quer saber tudo sobre todos, aqui nos EUA e no mundo. A desculpa vai ser o terrorismo e a segurança nacional, mas a espionagem é geral e eles podem intimidar pessoas. Fizemos o sonho da Stasi [polícia secreta da antiga Alemanha Oriental] virar realidade. Bush deveria ter sofrido impeachment, mas Barack Obama acabou expandindo a espionagem.

Sem supervisão
Falei em comissões do Congresso, com a imprensa, mas as perguntas do Congresso nas sabatinas dessas agências são jogo leve, com respostas leves. Não há supervisão. Essas empresas que trabalham para as agências do governo são muito ricas e as relações em Washington são bem incestuosas. Duvido que passem a fiscalizar mais.

Intimidação
Uma vez uma equipe armada com 12 agentes do FBI invadiu a minha casa. Apontaram armas para o meu filho, para a minha mulher, saí correndo do banho. Levaram todo o equipamento eletrônico, como se já não tivessem acesso a tudo que fiz. Abriram processos contra mim, mas sempre argumentei abusos nos processos e nunca foram adiante.


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