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China critica ação na Síria, mas dialoga com oposição

Governo busca canais alternativos para o caso de uma mudança de regime

Quatro delegações contrárias ao ditador Bashar al-Assad viajaram para Pequim nos últimos dias

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Enquanto as atenções estavam voltadas para a ameaça dos EUA de atacar a Síria, grupos de oposição ao regime sírio mantiveram consultas nos últimos dias, em Pequim, com representantes do governo chinês.

Os encontros sugerem que, embora seja contrário a uma intervenção estrangeira, o governo comunista busca canais de diálogo alternativos para o caso de que a guerra civil leve a uma mudança de regime na Síria.

Os opositores vieram a Pequim a convite do Instituto Popular Chinês de Assuntos Internacionais, um centro criado pela liderança comunista em 1949, pouco após a sua chegada ao poder.

O encontro foi confirmado à Folha por um dos participantes, Yin Gang, especialista em Oriente Médio da Academia Chinesa de Ciências Sociais, órgão subordinado ao Partido Comunista.

"O instituto convidou quatro delegações da oposição na Síria para ouvir suas demandas e trocar opiniões", disse Yin, num intervalo das discussões. "O vice-ministro de Relações Exteriores também esteve com eles."

Yin não disse que grupos sírios participaram dos encontros, mas fontes do governo chinês indicaram que eles pertencem à "oposição não violenta".

Em declarações oficiais, Pequim tem reiterado desde o início da crise síria que é contra o uso da força e que uma composição política é a única saída possível.

Mesmo que a ONU comprove que o regime sírio usou armas químicas contra civis, essa atitude tende a ser mantida. "A China jamais concordará com uma intervenção militar na Síria, sob qualquer circunstância", afirma Yin.

Se a Rússia ocupa a linha de frente da oposição a uma ação militar dos EUA, a China mantém-se na retaguarda. Fiel a seu estilo, Pequim assume tom mais discreto, mas sem recuar da firme rejeição ao intervencionismo norte-americano.

Na imprensa estatal, o tom das críticas ao plano americano é bem menos contido. Os EUA são descritos como uma potência historicamente agressiva, habituada a fabricar pretextos para invadir países estrangeiros.

Em artigo recente, o "Diário do Povo", jornal do Partido Comunista, comparou a crise síria à guerra do México (1846-1848) e à invasão do Iraque, em 2003.

O risco de que o regime sírio seja derrubado por radicais islâmicos também preocupa a China, que teme a disseminação do extremismo em suas fronteiras.

Em julho, o governo afirmou que "terroristas" treinados na Síria estavam por trás de ataques na província de Xinjiang (noroeste), onde está concentrada uma das maiores comunidades muçulmanas da China.

A China é o maior parceiro comercial da Síria, com um comércio bilateral que somou U$ 2,4 bilhões (R$ 5,5 bilhões) em 2011. Mas analistas afirmam que os laços econômicos com a Síria, que tem reservas modestas de petróleo, não são um fator de peso na oposição chinesa à ação militar.

O que preocupa Pequim é o impacto mais amplo de uma intervenção, como alertou durante a recente cúpula do G20 o vice-ministro chinês de Finanças, Zgu Guangyao.

Segundo ele, uma ofensiva contra a Síria poderá custar cerca de 0,25 ponto percentual de crescimento à economia mundial, caso o preço do petróleo suba US$ 10. A China importa 60% do petróleo que consome.

Acima de tudo, Pequim se esforça em reiterar o princípio de não interferência a fim de afastar intromissões externas em seus próprios conflitos, afirma David Cohen, da norte-americana Jamestown Foundation.

"A China não está especialmente preocupada em impedir um ataque [à Síria], mas em estabelecer normas que possa usar para rejeitar a intervenção internacional num conflito no Tibete, em Xinjiang ou em Taiwan".

O governo chinês tornou-se ainda mais avesso ao intervencionismo depois do que ocorreu na Líbia, diz Shi Yinhong, professor de relações internacionais da universidade Renmin, em Pequim.

"A China decidiu não vetar a intervenção no Conselho de Segurança da ONU a pedido da Liga Árabe. Mas a Otan abusou do mandato, que era limitado à proteção da população civil", diz Shi, referindo-se ao fato de que a intervenção acabou contribuindo para a queda do ditador Muammar Gaddafi.

"A Líbia foi uma lição para a China e deveria ser também para os EUA, que depois tiveram seu embaixador morto por radicais líbios".


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