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Chuva de dúvidas

Na festa dos 64 anos da China comunista, país se vê entre tom reformista e falta de abertura

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Sob chuva fina, os sete membros do Comitê Central do Partido Comunista, órgão político máximo da China, baixaram os guarda-chuvas e as cabeças, num gesto coreografado em homenagem aos mortos na revolução que recriou o país.

Foi o momento mais solene da cerimônia realizada ontem na praça da Paz Celestial, marco central de Pequim, na celebração dos 64 anos de fundação da República Popular da China.

Na transmissão ao vivo, comentaristas da TV estatal destacaram a reverência sincronizada como demonstração de união e modéstia da cúpula comunista.

E sintetizaram a diretriz da liderança empossada em março deste ano, sob o comando do presidente Xi Jinping: reforma econômica sem abertura política.

O "Diário do Povo", jornal do Partido Comunista, celebrou a prosperidade do sistema chinês, em contraste com a "confusão ideológica" dos países árabes, vítimas de revoluções guiadas pelo modelo de democratização "copiado do Ocidente".

Quando a chuva passou, limpando os céus e dando um raro alívio na poluição de Pequim, uma maré humana invadiu a praça. A festa de bandeiras e símbolos comunistas uniu gente de todo o país.

"É a primeira vez que venho a Pequim", disse o agricultor Linguo, 38, da província de Shandong (leste).

Emocionado, encarava o retrato do maior líder comunista chinês, Mao Tse-tung. "A praça é o símbolo de nossa força como nação".

Muitos, porém, aproveitaram a data para recordar um lado sombrio da praça, onde, em 1989, o Exército esmagou um movimento estudantil que pedia liberdade política.

Blogueiros liberais aproveitaram o aniversário para driblar a censura, usando o número 64 como uma espécie de senha do dia do massacre, 4 de junho (4/6).

"64, difícil de esquecer", escreveu o blogueiro Zhejiang. Outras mensagens com menções a 1989 foram apagadas pela censura.

Com retórica reformista na economia, o novo governo chinês frustrou os que torciam por um relaxamento político como efeito colateral das promessas de conceder maior espaço para as forças de mercado.

O último susto levado pelos liberais foi o anúncio de que o Livro Vermelho de Mao, motor da perseguição política da Revolução Cultural (1966-1976), será reeditado pela primeira vez desde o fim da década de 1970.

A reedição da controvertida coleção de pensamentos de Mao deve ocorrer por ocasião do 120º aniversário de seu nascimento, em dezembro. Grupos neomaoistas esperam usar a data para defender o legado político do "Grande Timoneiro".

Relegado a relíquia histórica nas feiras de antiguidades, o Livro Vermelho volta como um balão de ensaio da ideologia conservadora cultivada pelo presidente Xi Jinping, diz o cientista político Zhang Ming, da Universidade Renmin, em Pequim.

"Xi acredita no maoismo. Ele quer reviver completamente a política de Mao e este é só o começo", afirma o especialista.

Enquanto isso, o governo martela a ideia de que não recuará das reformas para modernizar a economia do país, em meio à maior desaceleração dos últimos anos.

A primeira zona franca do país, inaugurada no último domingo em Xangai, foi projetada como um campo de testes para a política de reformas, com menor interferência do Estado e o embrião de um centro financeiro nos moldes do que existe em Hong Kong.

Para reiterar a ênfase na inovação, os líderes do Comitê Central do PC fizeram ontem, pela primeira vez, uma reunião fora do complexo de Zhongnanhai, a sede do governo, adjacente à praça da Paz Celestial.

O local escolhido foi o parque científico de Zhongguancun, conhecido como o Vale do Silício chinês. A revolução mencionada teve pouco a ver com a liderada por Mao.

"Temos que ficar mais alertas a desafios inesperados e agarrar a oportunidade da revolução científica e tecnológica", disse Xi Jinping.


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