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Entrevista - Michael Axworthy

O Irã é um aliado natural dos EUA no Oriente Médio

para britânico que dirige centro de estudos persas, país ajudou americanos a estabelecer protodemocracias no iraque e afeganistão

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

Os variados acenos ao Ocidente são uma profunda mudança de estratégia do regime do Irã, que passou a considerar um acordo nuclear necessário a seus interesses.

A avaliação é do britânico Michael Axworthy, 51, diretor do Centro de Estudos Persas e Iranianos da Universidade Exeter e autor de três livros sobre o país, como "Revolutionary Iran: A History of the Islamic Republic" (2012).

Em entrevista à Folha por telefone, ele diz que Teerã decidiu negociar o fim das sanções após dominar o ciclo de enriquecimento de urânio.

Segundo o autor, esforços diplomáticos do presidente Hasan Rowhani, eleito em junho, têm respaldo do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, detentor da palavra final na teocracia do país. As negociações com as potências serão retomadas na terça-feira.

Para Axworthy, Irã e EUA são "aliados naturais".

Folha - O que a eleição de Rowhani e os recentes acenos ao Ocidente dizem sobre o momento histórico do Irã?

Michael Axworthy - Antes da eleição deste ano, as pessoas diziam que o regime manipularia o resultado, como pensavam que havia ocorrido no pleito anterior, em 2009.

Acreditava-se que Khamenei poria algum escolhido na Presidência. Mas, a exemplo do que ocorre no Irã há 20 anos, tivemos uma surpresa nas urnas, e a eleição foi mais livre do que se esperava.

Dito isso, o resultado foi parcialmente direcionado, já que candidatos precisam ser aprovados [pelo regime] para concorrer. O espectro de candidatos é feito de pessoas aceitáveis para o sistema.

Neste ano, três dos aprovados tinham experiência em política externa. Isso mostra que havia vontade de se ter um presidente capaz de negociar na questão nuclear.

Após as manifestações de 2009, Khamenei entendeu que tinha ido longe demais ao manipular as coisas e ao contrariar tanta gente. Ele percebeu que era perigoso continuar nesse caminho.

Khamenei decidiu buscar um acordo com o Ocidente?

Ele escolheu dar um passo para trás. Pode ser uma jogada tática para ganhar tempo ou enganar o Ocidente, mas, se a aposta for essa, os benefícios serão de curto prazo. Acho que ele não faria isso.

Um futuro acordo talvez não seja muito abrangente, atendo-se só ao tema nuclear. Mas um compromisso positivo poderia favorecer uma dinâmica positiva em outros assuntos, como a Síria. O Ocidente precisa de aliados, e o Irã é um aliado natural dos EUA no Oriente Médio.

Por que pensa que Irã e EUA são aliados naturais?

É obvio para quem visita o Irã que iranianos são naturalmente pró-americanos. Há 1 milhão de iranianos morando nos Estados Unidos.

O Irã era um aliado dos EUA [no tempo da monarquia] e continuou ajudando os americanos a estabelecer protodemocracias no Afeganistão e no Iraque, embora essa ajuda tenha sido ignorada [por Washington].

Pouco importa a retórica, pois o Irã tem uma política externa muito pragmática e sempre favorável à estabilidade regional, inclusive para evitar os fluxos de refugiados.

Mesmo no caso da Síria?

Ao condenar ataques químicos e apoiar esforços para eliminar arsenais sírios, o Irã mostrou que não apoia incondicionalmente o regime de Bashar al-Assad. O Irã parece dizer: "Podemos ser úteis". Foi uma jogada inteligente. Menos inteligente foi a maneira evasiva com que Rowhani se pronunciou sobre o Holocausto. Isso deu margem a interpretações erradas.


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