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Irã tem resistência interna a acordo nuclear

Presidente Rowhani enfrenta militares e clérigos para se reaproximar do Ocidente; negociação começa amanhã

Vice-chanceler descarta enviar urânio para fora do país, medida que poderia facilitar o diálogo entre os países

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

Apesar do apoio do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, o presidente Hasan Rowhani enfrenta a resistência de uma frente ultraconservadora para normalizar a relação com o Ocidente.

Um dos principais lances dessa tentativa de aproximação começa amanhã, em Genebra, em negociações sobre o programa nuclear.

Ontem, o vice-chanceler iraniano, Abbas Araghchi, disse que o país se recusa a enviar parte de seu estoque de urânio para o exterior, um dos pontos defendidos por países ocidentais. O Irã diz não querer bomba atômica e que seu programa é pacífico.

Uma aliança de clérigos, ativistas e militares vem tentando torpedear os acenos entre Teerã e Washington.

Na última oração de sexta-feira na Universidade de Teerã, a mais importante da semana no Irã, o influente clérigo Ahmad Khatami disse que o grito de "Morte à América" prevalecerá enquanto houver o "mal americano."

Há duas semanas, manifestantes contrários a um acordo jogaram ovos e sapatos contra Rowhani no momento em que o presidente desembarcava em Teerã após participar da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

Dizendo-se membros de um "comitê para a proteção dos interesses iranianos", os ativistas protestavam contra a conversa ao telefone que Rowhani tivera nos EUA com Barack Obama, primeiro contato entre dirigentes dos dois países em 34 anos.

Os agressores foram identificados como membros do basij, milícia ligada ao aparato ideológico e securitário.

O ataque gera temores de uma possível onda de violência contra políticos favoráveis a abertura, como na Presidência do reformista Mohamad Khatami (1997-2005).

"O antiamericanismo é a razão de ser de vários segmentos do regime. Não se pode esperar que aceitem uma aproximação com quem sempre foi visto como inimigo", disse à Folha um diplomata ocidental em Teerã.

Menos agressiva, mas potencialmente mais danosa, é a objeção da Guarda Revolucionária, a força de 120 mil homens que compõem a elite militar e de inteligência.

O general Mohamad Ali Jafari, comandante da guarda, disse que Rowhani "deveria ter rejeitado a conversa com Obama até que os EUA mostrem sinceridade". Também há resistência a um acordo por parte da direita americana.

Segundo analistas, o alívio das tensões com o Ocidente poderia diluir a relevância da guarda, que cresce em momentos de tensão.

Mas o maior temor é a possibilidade de acordo nuclear que leve ao fim das sanções ao Irã, já que a guarda se tornou força predominante em setores-chave da economia iraniana, incluindo petróleo, bancos e construção.

Segundo Mehrdad Emadi, da consultoria Betamatrix, de Londres, a guarda construiu desde os anos 90 um colossal poder graças a taxas de câmbio preferenciais, contrabando e situação de monopólio.

"A retomada de canais normais de comércio permitirá que as empresas mais eficientes e inovadoras cresçam, enquanto cartéis sofrerão perda de sua fatia de mercado."

Discorda Hooman Majd, autor do livro "The Ayatollah Begs to Differ". Ele pondera que a guarda, como todos os protagonistas no Irã, lucraria com o fim das sanções.

"A guarda não é contrária à reaproximação, mas quer que isso ocorra sob a perspectiva de uma vitória iraniana."

Para ele, Khamenei permite que todas as forças políticas se manifestem para evitar que uma facção se sobreponha de vez sobre a outra.


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