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General é homenageado até em chocolate

Chefe militar é visto como responsável por restaurar estabilidade após a queda de Mubarak e a eleição de Mursi

Criticada no exterior, repressão à Irmandade Muçulmana é elogiada no país; analista culpa deficit de democracia

PATRICK KINGSLEY MARWA AWAD DO "GUARDIAN", NO CAIRO

Bahira Galal, uma produtora de chocolates de luxo no Egito, não esconde seu apoio ao comandante do Exército do país, o general Abdel Fatah al-Sisi. Os clientes de sua luxuosa loja no centro do Cairo podem escolher entre chocolates cuja cobertura mostra o rosto do presidente e outros que apresentam mensagens de adulação.

Um dos chocolates mostra seu retrato oficial. Outro o traz de óculos escuros. "Obrigado, Sisi, do fundo de nosso coração", diz um terceiro.

Galal teve a ideia em agosto, pouco depois de os soldados comandados por Sisi usarem a força para remover um acampamento de partidários da Irmandade Muçulmana no Cairo, numa ação que pode ter causado até mil mortes.

No exterior, a repressão gerou protestos, mas muitos egípcios "desejavam mostrar seu apoio do modo que pudessem", diz Galal, representante de grande parcela da população do Egito que vê a Irmandade Muçulmana como organização terrorista.

Os chocolates de Galal são só uma das manifestações na imensa onda de apoio popular a Sisi, fenômeno de intensidade não vista no Egito desde os dias de Gamal Abdel Nasser, o autocrata muito amado pelo povo que governou o país nos anos 50 e 60.

Muitos egípcios elogiam Sisi por ter resgatado o país do ex-presidente Mohammed Mursi, um político islâmico que, temiam os oponentes, estava tentando roubar do Egito seu caráter moderado.

Depois de quase três anos de caos pós-revolucionário, eles também veem em Sisi o homem que restaurou a estabilidade --a despeito do aumento no número de mortes provocadas pelo Estado desde a derrubada de Mursi.

"Há essa sensação de que o país estava um pouco perdido. Não há instituições estáveis já há algum tempo ""e as Forças Armadas são vistas como último bastião da estabilidade", diz Bassem Sabry, renomado colunista egípcio.

"Assim, quando Sisi decidiu intervir e fez o que fez, isso foi encarado como ato heroico, como a tomada de uma providência desesperada para salvar o país de uma economia em crise e da ameaça de uma autocracia religiosa."

O amor por Sisi é visível na maioria das ruas do Cairo. Há cartazes com a imagem do general nas vitrines das lojas. Um fabricante de joias vende gargantilhas de luxo que incorporam o nome do general.

Uma companhia fabricante de kebabs vende o sanduíche Sisi. Um fotógrafo de casamentos conquistou sucesso viral na internet com imagens de um casal que usava roupas com a marca do Exército e carregava fotos de Sisi na cerimônia de casamento.

Um homem em Suez deu ao seu primogênito o nome de Sisi, segundo a revista "El Fagr", que para provar a alegação reproduziu uma cópia da suposta certidão de nascimento. "A equipe do hospital onde o bebê estava sendo vacinado ficou tão deliciada com o nome que se recusou a aceitar pagamento do pai do menino", afirma a revista.

Há quem espere que a mania convença Sisi a disputar a Presidência e a substituir Mursi. O general diz que não tem planos de fazê-lo, mas sua popularidade é tamanha que poucos políticos ousam anunciar suas candidaturas até que haja certeza de que Sisi não disputará a eleição.

Entre um quinto e um terço do país ainda apoia Mursi, e uma pequena minoria critica o autoritarismo tanto da Irmandade quanto do Exército.

Mas uma vasta maioria dos egípcios apoia Sisi, a despeito dos muitos defeitos da junta militar que governou o país depois da queda de Hosni Mubarak, em 2011, e apesar dos alertas dos ativistas de que Sisi na Presidência pode significar uma volta ao autoritarismo da era Mubarak.

"O Egito não teve forte experiência democrática. E há muito tempo existe no país a ideia de que devemos ter uma figura forte no topo, à qual Legislativo e instituições do Estado respondam", diz Sabry.


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