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Argentina define futuro do kirchnerismo
Eleição legislativa de hoje não dará maioria absoluta no Congresso à presidente Cristina Kirchner, apontam pesquisas
Cristina, porém, deve continuar com maioria para governar; segundo analistas, mandatária não preparou sucessor
O futuro político de Cristina Kirchner será posto à prova hoje nas eleições legislativas da Argentina, que renovarão metade da Câmara e um terço do Senado. Se confirmadas as pesquisas, a presidente sairá derrotada, como ocorreu nas primárias de agosto.
Já se fala em fim do kirchnerismo: se não obtiver maioria absoluta no Congresso, o governo não poderá aprovar uma reforma constitucional que permita a Cristina disputar um terceiro mandato no pleito presidencial de 2015. A presidente nunca disse explicitamente que tentaria a "re-reeleição", ideia lançada por políticos kirchneristas.
"O problema do kirchnerismo é que Cristina não tem um sucessor, e faltam dois anos para as eleições", diz à María Matilde Ollier, professora da Universidade San Martín.
Se o pleito de hoje repetir as primárias de agosto, quando a aliança governista FpV (Frente para a Vitória) obteve 26% dos votos, o kirchnerismo deverá perder em quatro dos cinco principais colégios eleitorais: Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé e Mendoza.
No Estado que concentra 37,3% dos eleitores do país, Buenos Aires, as pesquisas indicam vitória da lista do partido Frente Renovadora, encabeçada por Sergio Massa. O ex-chefe de gabinete de Cristina tem 41,2% das intenções de voto, e o governista Martín Insaurralde, 33,2%.
Mesmo que o kirchnerismo perca a eleição, Cristina continuará tendo a maioria no Congresso, o que deve garantir a governabilidade nos últimos dois anos de mandato.
Ela também dispõe da "lei de superpoderes econômicos", vigente desde 2002, que permite ao Executivo alterar o Orçamento e criar impostos sem votação parlamentar.
"Se o kirchnerismo perder, não significa que alguém ganha. Esses 70% que votaram contra nas primárias estão em pedacinhos, não têm capacidade de construir", diz Roberto Bacman, do Centro de Estudos de Opinião Pública.
O pior cenário possível para Cristina, dizem os analistas, é a FpV ter menos de 26% dos votos e Massa ganhar com mais de dez pontos de vantagem. O melhor seria obter 30% ou mais, como ocorreu em 2009, quando o kirchnerismo perdeu com 32,1%.
"Em 2009, a derrota foi por questões pontuais. Havia o problema da insegurança e o conflito do governo com o campo. Mas a expectativa econômica era melhor", diz a socióloga Graciela Römer.
Para o economista Dante Sica, a sensação do país sobre a economia é pior, apesar da previsão de 3% de crescimento em 2013. "Em 2009, a taxa de expansão foi de -1% e a inflação estava maior", diz ele. "O pessimismo se deve às políticas cambiais e fiscais dos últimos dois anos."