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Análise

Punk antes dos punks, músico foi o grande "transformador"

ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA

Nenhuma lista dos discos mais influentes da história do rock estaria completa sem "The Velvet Underground & Nico", lançado em 1967.

Até Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Moe Tucker criarem o Velvet Undeground, o rock era um fenômeno rural e adolescente.

A música adulta das metrópoles era o jazz. Rock era coisa de adolescentes que curtiam Beatles ou de caipiras enfezados, fossem negros como Little Richard ou brancos como Jerry Lee Lewis.

Lou Reed mudou tudo isso. Ele, mais que ninguém,

levou para o rock a linguagem das ruas --no caso, das ruas cinzentas do Chelsea e do Harlem, em Nova York.

Reed também deu ao rock uma conexão com as artes plásticas e a vanguarda artística, cortesia do amigo e mentor Andy Warhol, e com a poesia beat que sempre o fascinou. De repente, era OK para um adulto ouvir música pop.

Lou Reed tornou o rock sofisticado e cosmopolita sem tirar a sua essência de rebeldia e barulho. Pelo contrário: ao criar uma sonoridade esparsa e minimalista, tirando da música tudo que considerava supérfluo --solos, floreios harmônicos, letras enigmáticas e cheias de metáforas-- Reed criou um tipo de "jornalismo musical pulp", em que narrava a vida de junkies, prostitutas e cafetões sobre uma base sonora visceral e adequada à devassidão e às idiossincrasias desses personagens dos subterrâneos.

Em mais de 50 anos de carreira, ele nunca fez nada da forma mais fácil. Sempre foi um combatente.

Quando o rock se floreava em delírios lisérgicos e celebrava o hippismo, ele e sua trupe se vestiram de preto e rechaçaram o espírito gregário e otimista dos anos 1960. Os 1960 que conhecia não era o de Woodstock, mas das esquinas do Lower East Side.

Foi glam antes dos glams, punk antes dos punks e gótico antes dos góticos. Fez barulho experimental ("Metal Machine Music"), pop-rock de FM ("New York") e gravou poemas de Edgar Allan Poe. Sempre fez o que quis.

É difícil imaginar qualquer cena pop pós-1967 que não tenha sido marcada pela influência dele. Foi, como diz o título de um de seus discos inesquecíveis, o "Transformador". Talvez o maior deles.


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