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Manobra aumenta poder da Casa Branca
Em decisão considerada histórica, Senado dos EUA limita capacidade da oposição de obstruir nomeações
"Filibuster" tem mais de 200 anos de vida, e seu fim deve piorar o já conturbado ambiente político no país
Em uma manobra chancelada pelo presidente Barack Obama, o Senado americano adotou ontem uma medida que na prática aumenta os poderes da Casa Branca e deve piorar o já beligerante clima político no país.
Numa decisão considerada histórica, os senadores praticamente acabaram com uma instituição com mais de 200 anos de existência, o "filibuster" (equivalente à obstrução). É um instrumento que exige maioria qualificada (60 senadores entre cem) para ser superado.
Com ele, o partido minoritário (atualmente os republicanos) conseguia bloquear a nomeação de autoridades como membros do gabinete, embaixadores e juízes, que necessitam de aprovação do Senado. Dessa forma, extraía concessões políticas do governo.
Ontem, por 52 votos a 48, o Senado acabou com o "filibuster" para essas nomeações. Agora, as indicações do Executivo podem ser aprovadas com maioria simples.
A necessidade de quórum qualificado sobrevive apenas para leis e nomeação de membros da Suprema Corte.
A restrição à capacidade de obstrução era cogitada havia décadas, mas nunca nenhum governo teve coragem de aprová-la --isso porque o governista de hoje é o oposicionista de amanhã.
Além disso, a manobra, apelidada de "opção nuclear", é tão radical que deve destruir qualquer possibilidade de acordo político para que Obama aprove reformas significativas, como uma nova lei imigratória.
O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, disse que Obama "vai se arrepender antes do que pensa".Para ele, os democratas estão usando a questão para distrair a opinião pública dos recentes problemas com o programa de saúde do governo.
Após a votação, Obama afirmou que a recente obstrução praticada na Casa estava exagerada, em um nível sem precedentes.
"O esforço deliberado de obstruir qualquer coisa não é normal e não pode continuar sendo, em nome das futuras gerações", disse.
Nas últimas semanas, republicanos usaram o "filibuster" para bloquear nomes escolhidos por Obama para o tribunal de recursos do Distrito de Columbia, um dos mais importantes do país.