Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Foco
Museu reedita exposição que Kennedy viu no dia da morte
SILAS MARTÍ DE SÃO PAULONa noite antes de seu assassinato, que hoje completa 50 anos, o presidente John Kennedy e sua mulher, Jacqueline, dormiram num quarto de hotel cheio de obras de arte, entre elas peças de Picasso, Monet e Van Gogh.
Era a suíte 850 do Hotel Texas em Fort Worth, de onde partiram para Dallas na manhã seguinte, quando Kennedy foi morto.
As 16 obras não eram, é claro, parte da decoração do hotel. Mas sim fruto da ideia de um crítico de arte de um jornal local que convenceu os maiores colecionadores dali a emprestarem obras-primas para surpreender o casal.
Um museu em Fort Worth agora relembra a data reunindo quase todas essas peças na mostra que leva o nome do antigo hotel onde Kennedy passou a última noite.
"Era o hotel mais chique da cidade", conta Shirley Reece-Hughes, curadora da mostra no Museu Amon Carter. "Eles iam ficar no maior quarto de todos, no 13º andar, mas o serviço secreto achou a outra suíte mais segura por ter menos acessos."
Mesmo menor, o apartamento tinha dois quartos e uma sala de estar. De acordo com o protocolo da época, Kennedy e Jackie dormiram em quartos separados.
No quarto dela, por causa de sua ascendência francesa, estavam obras de impressionistas como Monet e Van Gogh. O dele tinha clássicos da arte americana, como "Swimming", obra-prima que Thomas Eakins pintou no século 19, retratando garotos nadando num lago.
Mas Kennedy e a primeira dama só foram perceber que estavam numa espécie de minimuseu no dia seguinte. Depois de um atraso no jantar em Houston, o casal voou até Fort Worth e chegou ao hotel quase à meia-noite, indo direto para a cama.
Talvez isso explique porque trocaram de quarto. Restos de espuma de barbear no quarto preparado para Jackie indicam que o presidente dormira entre os impressionistas, enquanto manchas de maquiagem no outro quarto dão a entender que a primeira dama ficou por ali.
No dia seguinte, espantados com as obras, Kennedy e a mulher quiseram agradecer Ruth Johnson, a colecionadora que organizou a mostra. Sem saber seu telefone, pediram a agentes da guarda presidencial que procurassem todas as mulheres com esse nome na lista telefônica até acharem a Ruth correta.
"Kennedy falou com ela, depois passou o telefone para Jackie, que disse que as obras eram tão lindas que ficaria difícil sair do quarto", conta a curadora. "Esse foi o último telefonema que Kennedy deu em vida para alguém fora de seu círculo."
Para Reece-Hughes, o objetivo é "reconstruir aqui a parte que foi esquecida dessa história."