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Marcos Troyjo

OMC: o fim da inocência

Cabe ao Brasil incrementar a sua inserção em acordos pluri e bilaterais, a despeito das injustiças do sistema

Todos torcemos para que Roberto Azevêdo, a fórceps e na undécima hora, arranque de Bali acordo que salve a OMC (Organização Mundial do Comércio) do ocaso.

Mesmo que 159 países se alinhem tão-somente em medidas de facilitação de negócios e avanços pontuais na agenda agrícola, isso já manteria a OMC mais distante do marasmo. E acrescentaria US$ 1 trilhão à economia global.

A ausência de um colapso em Bali remuneraria esforços do brasileiro que dirige a organização há três meses. Ele merece. Em poucas semanas logrou avanços que anos de embromação desde Doha em 2001 não produziram.

O mundo é melhor com a OMC do que sem ela. O comércio internacional é muito injusto. Cada vaca na União Europeia recebe US$ 2,20 por dia em subsídios. É mais do que o salário diário de 20% do mundo.

Nos anos 1930, Keynes via no mundo submerso na Grande Depressão um deficit de governança. Para alcançar cooperação internacional, sugeria um tripé de novas instituições. Uma agência de liquidez, um banco de fomento e um veículo para regras e negociações comerciais.

As duas primeiras, Fundo Monetário e Banco Mundial, emergiram de Bretton Woods, em 1944. A terceira, a OMC, teve de esperar até 1995 para sair do papel. E, desde então, não produziu sequer um acordo de relevância.

Sair de Bali sem pacto reduz a OMC a um misto de câmara de arbitragem --o Órgão de Solução de Controvérsias-- e centro de estatística. Faria companhia a outros leões desdentados, como o Ecosoc (Conselho Econômico e Social da ONU) e a Unctad (Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento).

O principal ensinamento dessa negociação para o país vai além do futuro da OMC. Deveria representar o fim da inocência do Brasil ante o comércio global. Multilateralismo não é panaceia. Tampouco deve ser a prioridade brasileira. O Brasil tem de aumentar sua esquálida fatia de 1% do que se compra e vende no mundo. Carece de estratégia que vá além das negociações multilaterais.

Várias parcerias são possíveis. Contudo, não se baseiam, como o discurso brasileiro faz supor, numa imaginada solidariedade terceiro-mundista. Nas negociações comerciais, a primeira lógica é: "farinha pouca, meu pirão primeiro".

Com ou sem Mercosul, o Brasil precisa de acordo com a Europa. De interlocução com a Aliança do Pacífico. Reaproximar-se comercialmente dos EUA. Montar agências e equipes em cidades globais como Londres, Nova York e Xangai. Multiplicar e sofisticar o trabalho da APEX, nossa agência de exportações e investimentos.

Em termos de comércio, passamos anos numa ingênua e confortável inércia. Acomodamo-nos no protegido mercado interno. Na prevalência de princípios multilaterais sobre o interesse nacional concreto. Na fácil hipertrofia das exportações turbinadas pelo apetite chinês por commodities.

Ainda que consiga algo com a OMC, cabe ao Brasil incrementar sua inserção na família de acordos pluri e bilaterais. E promover-se comercialmente, sejam as regras --e o mundo-- justos ou não.

mt2792@columbia.edu


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