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Clóvis Rossi

Maduro em seu labirinto

O mais difícil vem agora: decidir se acaba com o capitalismo, majoritário, ou tenta uma conciliação

O presidente venezuelano Nicolás Maduro ganhou um precioso balão de oxigênio ao vencer as eleições municipais de domingo, mas agora terá que decidir como enfrentar a crise econômica do país, se com mais intervenção estatal ou com um mínimo de ortodoxia econômica.

O ponto de partida só é favorável porque Maduro evitou o desastre que seria ter menos votos que a oposição. Nessa hipótese, seria sitiado não só por uma oposição que estaria mais forte como pelos próprios setores do chavismo que ainda não digeriram bem sua indicação como herdeiro do líder morto.

Mas a vitória não esconde que o chavismo, com Maduro, está perdendo apoio. Na sua última batalha eleitoral (outubro de 2012), Hugo Chávez recebeu 55% dos votos. No seu primeiro triunfo, Maduro coletou apenas 50,66%, se se aceitar como legítimo o resultado das presidenciais de abril, que a oposição contesta. Agora, não chega a 50%.

É preciso ainda contabilizar o provável efeito eleitoral do que Maduro batizou como "guerra econômica" contra o lucro tido como excessivo do setor privado. Pesquisa do instituto Datanalisis mostra que a metade dos venezuelanos acreditou que, de fato, se travava uma guerra --porcentagem não por acaso similar a que votou nos candidatos do chavismo.

Acontece que essa guerra não pode prosseguir, a menos que Maduro tenha a intenção de pôr fim ao capitalismo venezuelano, que já vem minguando desde que Chávez assumiu, mas ainda é majoritário.

Dados do Banco Central mostram que o setor privado gerava 65% da riqueza quando Chávez subiu ao poder em 1999. No final do ano passado, a porcentagem caíra para 58,2%, de todo modo mais que os 41,8% do Estado.

No capitalismo, ainda majoritário, não dá para tabelar o lucro ou permitir que sobreviva um câmbio negro que é dez vezes superior ao oficial. Como Maduro é aconselhado pelos cubanos, é razoável supor que ele não pretende fazer o contrário do que fazem os seus conselheiros, em trânsito para o capitalismo de partido único, invenção que está dando certo por ora na China, por exemplo.

Se essa suposição for correta, o primeiro passo será desvalorizar a moeda venezuelana, como já apostam o Bank of America, o Barclays e o Nomura Bank. A lógica é clara, como aponta "El Universal": "Os gastos do governo superam as receitas em 15% do Produto Interno Bruto e, portanto, será necessário obter mais bolívares pelos petrodólares. [...] Como a inflação fez disparar o resto dos preços, o dólar se tornou um produto barato, o que torna insustentável a demanda por divisas".

A desvalorização, se é necessária para tentar estimular a produção e, assim, enfrentar o desabastecimento, provoca, por outro lado, aumento da inflação, porque a Venezuela importa quase tudo o que consome.

Nesse cenário, é difícil prever por quanto tempo Maduro poderá contrariar a implacável lógica do sistema capitalista, ainda majoritário, aprofundando a "guerra econômica" como prometeu após a vitória. Ganhar domingo pode ter sido o menos difícil.


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