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Análise

Protestos ocorrem por antagonismo leste-oeste, não pela crise econômica

ELENA LAZAROU DANIEL EDLER ESPECIAL PARA A FOLHA

Os recentes protestos na Ucrânia foram impulsionados pela reação pública à decisão do governo em não assinar o Acordo de Associação (AA) com a União Europeia (UE). A expectativa era que este se concretizasse na cúpula da Parceria Oriental em Vilnius, capital da Lituânia, semana passada.

Enquanto negociações para AAs --documentos que estabelecem o formato e as regras para integração e liberalização comercial-- avançaram com Geórgia e Moldova, a Ucrânia adiou, por enquanto, uma aproximação à UE.

Observadores traçam paralelos equivocados destes protestos com outras manifestações que ocorreram mundo afora.

Tais análises apontam para o descontentamento com as instituições políticas e as elites que governam o país há mais de 20 anos. É certo que há alto grau de insatisfação com a fragilidade da democracia e dos canais de representação, mas é o conteúdo da política que está no centro do debate, não o regime.

Gritando "Ucrânia, vá para a Europa! Yanukovich, vá para o inferno!" os manifestantes de Kiev estão escrevendo um novo capítulo de uma disputa que tem marcado o país desde a independência, em 1991. Tal disputa gera uma postura pendular, que ora aproxima a Ucrânia da UE, ora a reinsere na esfera de influência russa.

Desde 1991, as mudanças no governo representam a divisão existente na sociedade e no território. A parte ocidental do país tem vínculos históricos com a Europa, o que se reflete na cultura local e nas opiniões políticas.

Laços fortes com a Rússia são vistos como atentados à autonomia e remontam ao autoritarismo de Moscou no período soviético. O processo de independência e a Revolução Laranja, que levaram, respectivamente, à ascensão dos pró-europeus Kravchuk e Yushchenko, tiveram grande apoio no oeste. Já a parte oriental, onde há uma concentração da diáspora russa, ressente-se das ações tomadas por governos europeístas e apoiou o presidente Yanukovich.

Nesse sentido, não é surpreendente que após a vitória de Yanukovich, em 2010, o legado da Revolução Laranja tenha sido revertido e alguns de seus líderes presos.

As decisões do governo sobre o acordo com a UE e os protestos nas cidades ocidentais devem ser vistos, portanto, à luz do profundo antagonismo da sociedade, e não somente como resultado da corrupção e da crise econômica.


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