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Homenagem a Mandela aproxima rivais

Obama aperta a mão do cubano Raúl Castro, no contato mais próximo entre líderes dos dois países desde 2000

Discursos ressaltam a capacidade de reconciliação do sul-africano, que morreu na última quinta-feira

FÁBIO ZANINI ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Reconciliação foi o mote da cerimônia em homenagem a Nelson Mandela ontem num estádio de Johannesburgo, primeiro em incontáveis discursos elogiando a capacidade do líder sul-africano de perseguir esse objetivo, depois em um inesperado aperto de mãos entre o presidente americano, Barack Obama, e o ditador cubano, Raúl Castro.

A unanimidade que foi Mandela tornou inevitável que sua despedida reunisse líderes de países inimigos em um mesmo palco. Mais de 90 chefes de Estado compareceram, Dilma Rousseff entre eles.

Especulava-se sobre um cumprimento de Obama e Hasan Rowhani, para selar um processo de aproximação entre os dois, mas o iraniano não compareceu.

Em vez disso, o presidente americano, cujo governo mantém um embargo de cinco décadas à ilha comunista, avistou Raúl ao subir ao palco e não tentou evitá-lo.

Os dois se cumprimentaram com sorrisos e trocaram algumas palavras.

Foram seis segundos de interação, no mais significativo contato entre os dois países desde 2000, quando Bill Clinton e Fidel Castro apertaram as mãos em reunião da ONU.

Já foi o suficiente para a imprensa e meios políticos americanos passarem a cogitar um processo de distensão semelhante ao que ocorre com o Irã --e também para parte da oposição republicana criticar a atitude de Obama.

A Casa Branca diz que o encontro não foi planejado.

Obama defende o alívio de parte das sanções à ilha, mas enfrenta resistência política interna. E não se tornou amigo do cubano do dia para a noite, como faz supor um trecho de seu discurso ontem, que parece recado para ele.

"Há líderes que reivindicam solidariedade com a luta de Mandela pela liberdade, mas não toleram dissenso entre seu próprio povo", disse.

O presidente americano foi uma das personalidades mais aplaudidas pela multidão, calculada em 60 mil pessoas.

"Ficarei sempre aquém do exemplo de Mandela, mas ele me inspira a querer ser melhor", afirmou.

A lotação decepcionou um pouco, pois esperava-se casa cheia (90 mil pessoas). A chuva e o fato de não ter sido decretado feriado podem ter contribuído para isso.

O local, na entrada do distrito de Soweto, tinha grande significado para Mandela. Em 1990, ele fez no estádio seu primeiro grande ato após ser libertado da prisão.

Em 93, no mesmo local, pediu calma a uma população enfurecida com o assassinato do carismático líder antiapartheid Chris Hani por um extremista branco.

E em 2010, quando o estádio ainda se chamava Soccer City, foi lá a última aparição pública de Mandela, na final da Copa do Mundo.

Obama foi muito aplaudido, mas Raúl também. Chamado de "camarada" pelo apresentador do evento, fez um discurso em que lembrou a amizade dos irmãos Castro com Mandela e a contribuição cubana na luta contra mercenários sul-africanos nos anos 70, em Angola.

Para ajudar a espantar o frio, a multidão praticamente não parou de cantar antigos hinos e palavras de ordem por Mandela, cujo corpo não estava presente.

Hoje, começa o velório público, na capital, Pretória. O enterro será domingo, em Qunu, terra de seus ancestrais.

"Vim para viver algo para contar a meus filhos", disse Nosipho Manana, 21, moradora de Soweto. "Quando ele foi libertado eu não era nascida. Quando foi eleito presidente, eu era uma criança. Esta é a primeira vez que sou parte da história", afirmou.

Devin Naidoo disse ter ido ao local porque Mandela foi "um grande homem". "É o mínimo que posso fazer, como bom servidor público". Funcionário do governo federal, ele teve a falta abonada.

Para Jacob Zuma, presidente sul-africano que enfrenta reeleição em 2014, o dia foi duro. Com a economia estagnada e acusações de corrupção, bastava seu nome ser citado ou o rosto mostrado no telão para levar vaia.

Muitos nas arquibancadas faziam um gesto típico de um técnico que avisa seu jogador de que será substituído. Querem Zuma fora de campo.


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