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Pânico toma conta de reduto do Hizbullah

Sul de Beirute, no Líbano, sente-se vulnerável após onda de explosões, mesmo com forte presença de milícia xiita

País vive uma onda de atentados; um deles, na semana passada, matou a jovem brasileira Malak Zahwe, de 17 anos

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

Um jornal está aberto em cima do balcão, em uma papelaria ao sul de Beirute. A atendente aponta para uma fotografia e pergunta ao repórter da Folha, "você viu essa garota que morreu aqui?". É a imagem da brasileira Malak Zahwe, vítima do atentado da última quinta-feira.

O calor da explosão que destruiu uma praça na região de Haret Hreik já se dissipou, mas persiste nessa fortaleza da facção xiita Hizbullah a lembrança do mais recente carro-bomba.

Mais grave, está instalada ali a constatação de que mesmo os locais considerados pelo Hizbullah como os mais seguros da cidade podem ter a proteção violada.

Ontem, o grupo Estado Islâmico no Iraque e na Síria, ligado à Al Qaeda, disse ter sido o autor do atentado. O grupo combate o ditador sírio, Bashar al-Assad, aliado do Hizbullah.

A reportagem encontrou, no local da explosão, bloqueios e diversos membros do Hizbullah --que, apesar de aparentemente não estarem armados, mantinham essa região sob vigília. Ao redor, carros chamuscados e vidraças estilhaçadas.

A atendente da papelaria, que prefere não dizer o nome, diz que estava no subterrâneo no momento do ataque. "Eu senti tudo tremendo", afirma. "Tenho medo todos os dias, porque o que nos separa da morte são poucos minutos."

Kazem Khalife, dono de uma loja de prata na região, diz ter ouvido o ruído violento da explosão, e depois foi ao local, onde encontrou diversos corpos ensanguentados. Houve ao menos cinco mortos nesse ataque, incluindo a brasileira Zahwe e sua madrasta, Iman Hijazi.

Khalife reclama da falta de polícia na região e culpa os "extremistas" pelo ataque. Sua loja tem fotografias de líderes do Hizbullah na parede. "Aqui em Beirute, cada um está no seu lugar. Sunitas em bairros sunitas, xiitas em bairros xiitas", afirma.

As recentes explosões em Beirute trouxeram de volta o espectro dos dias de guerra civil, entre os anos 1970 e 1990. Apesar de a cidade manter seu ritmo regular, a despeito do aumento de controles militares, há o receio de que a capital volte a ser o palco de disputas políticas.

Há uma semana, outro ataque matou o ex-ministro Muhammad Chatah, desafeto público da facção xiita. Houve também, em novembro, um atentado na embaixada iraniana na cidade, com ao menos 23 mortos.

O Exército libanês havia anunciado recentemente a detenção de Majid al-Majid, suspeito de liderar a brigada Abdullah Azzam, que reivindicou o ataque à embaixada. Ele morreu ontem devido à "saúde ruim", de acordo com a rede de TV Al Arabiya.

O atentado da última quinta foi recebido como um alerta à liderança do Hizbullah de que sua participação no conflito sírio, com o envio de guerreiros para defender Assad, terá alto custo.

Essa facção xiita parece ter entendido o recado, a julgar pelo nervosismo nos entornos do local da explosão.

Para Afaf Jaafar, dono de uma loja de lustres na frente da praça destruída pelo carro-bomba, pouco importa a autoria ou o significado político. "As pessoas sempre falam quem, quem, quem. Ninguém fala sobre o que fazer depois de um atentado."

A vidraça de seu negócio está totalmente destruída, assim como os carros dos arredores. Ele não pode tocar nos lustres estilhaçados, no chão, enquanto o Exército não fizer a avaliação dos estragos. Jaafar estima ter perdido mais de US$ 50 mil ali.

Diante de sua loja, havia ontem um verdadeiro Exército de manutenção, replantando um jardim e desembaraçando fios de eletricidade.


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