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Análise

Embate de grupos causa erosão do delicado equilíbrio político

HUSSEIN ALI KALOUT ESPECIAL PARA A FOLHA

A sociedade libanesa se divide em dois polos políticos: um em torno de uma aliança ocidental-saudita; outro na órbita sírio-iraniana.

Historicamente, a paz social no Líbano sempre foi consubstanciada na lógica de que as tendências políticas do cristianismo e do islamismo devem ser contempladas, proporcionalmente, para assegurar a paz e a ordem sócio-religiosa no país.

Entretanto, desde o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri em 2005, o país viu a acentuação do antagonismo político, o que hoje leva à erosão do seu tênue equilíbrio sectário.

A clivagem religiosa ganhou robustez incomensurável e o resultado foi o surgimento de dois blocos extremistas no cenário político: o Movimento 8 de Março e o Movimento 14 de Março.

O 8 de Março é composto pelos partidos cristãos maronitas Brigadas Marada e Movimento Patriótico Livre, pelos xiitas Amal e Hizbullah, pelo Partido Democrático Libanês da seita muçulmana drusa e por tradicionais lideranças muçulmanas sunitas.

Já a coalizão 14 de Março é formada pelo Partido Futuro, de Saad Hariri (filho de Rafik), pelos cristãos maronitas do Partido Falangista e do Partido das Forças Libanesas, pelo partido cristão-ortodoxo Movimento Murr e por pequenos grupos xiitas de baixa densidade eleitoral.

No Líbano, a confusão político-religiosa não permite o delineamento de eixos ideológicos claros, mas grosso modo a coalizão 8 de Março está à esquerda enquanto a 14 de Março tende à direita.

Contudo, o acirramento da confrontação política emana de quatro contextos: o Tribunal Especial da ONU encarregado de investigar a morte de Rafik; a guerra contra Israel em 2006; o embate regional saudita-iraniano; o conflito na Síria e o envolvimento de diversos grupos libaneses.

Na percepção da coalizão 14 de Março, a independência e a paz social no Líbano edificam-se na deposição da resistência nacionalista contra Israel e no rompimento do alinhamento político com a Síria e o Irã. O grupo postula uma aliança com a Arábia Saudita, a Europa e os EUA, que possibilitaria, supostamente, a restauração da ordem, da estabilidade e do progresso ao país.

Por outro lado, a concepção da aliança de 8 de Março está consubstanciada na tese de que a soberania e a autodeterminação libanesas somente existirão se a resistência armada a Israel se mantiver ativa.

Para esse grupo, a aliança com sírios e iranianos é estratégica para contrapor o domínio israelense na região, uma vez que o obsoleto Exército libanês não é capaz de confrontar a armada hebraica.

As discrepâncias entre essas duas visões arremessaram o país, desde 2006, em consecutivos impasses.

Os movimentos 14 de Março e 8 de Março sabem que estão num jogo em que não haverá vencedores. O resultado desse embate está impondo ao país fraturas de consequências imprevisíveis.


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